"Tique preconceituoso". Um contributo

Também "sei" fazer análises sobre a situação do país, pelo menos tento fazer com alguma imparcialidade e sem preconceitos. Tento fazer, mas confesso que é difícil, quase que diria é impossível. Nenhum cidadão se pode considerar impoluto e imparcial na análise de quem quer que seja ou na interpretação de inúmeros factos e situações. Tudo bem. E depois? Depois irrita-me muitos comentários e análises que refletem uma mistura dos factos que nos circundam e das personalidades de quem os analisa. Há quem impregne mais com o suor da sua personalidade - e suor é coisa que não cheira bem -, e há quem impregne menos.
Relativamente a questões de vencimentos, reformas e coisas parecidas com ganhos justos ou injustos por parte dos políticos e altos dirigentes, é possível observar um movimento de contestação e de repúdio dos mesmos por parte de grande parte da população. Aparentemente compreende-se, os que contestam ganham pouco ou, até, nem ganham nada. Como travar esta contestação? Não sei muito bem, mas atrevo-me a dizer que, se for por causa disso, vencimentos, alcavalas e regalias financeiras, então deveria ser feito o seguinte: abolir a presidência da república, não deveria haver primeiro-ministro, nem ministros, nem deputados, nem presidentes, directores de organismos públicos e assim sucessivamente. Deste modo, os alvos de depreciação de "vantagens financeiras", que podem, pelos vistos, ser designados, eufemisticamente falando, como "chulos da política" deixariam de existir, deixariam de gastar dinheiro e os contestatários que se nutrem destes casos ficariam mais calmos e muito mais satisfeitos...
Um país que repete os mesmos tiques de sempre, falar, falar, criticar, atacar, mas que se demite da intervenção política e da participação cívica. Os "criativos" deveriam, na primeira oportunidade, dar corpo ao manifesto e substituir os incapazes. Mas serão capazes? Aqui vai o meu tique "preconceituoso", não, não acredito que sejam.

Comentários

  1. Pois não são (somos) capazes, concordo.
    Como poderíamos fazê-lo? Tudo está na proporção dircta. Como o caro amigo refere no início do texto-depoimento, ninguém está impoluto e ninguém se veste com o traje da imparcialidade.
    Estas duas condições geram por si só antagonismo e inviabilizam a contestação séria, capaz de repôr com coerência o equilíbrio governamental... a tão desejável justiça democrática.
    Mas, imaginemos que essa justiça e essa igualdade poderiam ser aplicadas; imaginemos que do nevoeiro saísse um D. Sebastião capaz de revolucionar o(s) nosso(s) sistemas político-governamentais e instituir um novo regime, uma nova forma de governar. Ele teria de seguir uma linha orientadora, teria de optar por um modelo que se encaixaria ou no conceito de democracia, ou no conceito de ditadura. Sintetizando; ou governaria de acordo com a vontade da maioria, ou de acordo com a sua vontade própria. Mas, par poder governar de acordo com a vontade da maioria, teria de criar canais directos de comunicação entre cada um e quem governa e teria de canalizar as vontades de todos para os orgãos executivos. Partindo do princípio que não haveria unânimidade no teor das vontades, ou seja, cada uma seria diferente da outra e visaria a satisfação individual, tornar-se-ia impossível canaliza-las para os orgãos criados. A menos que o governo criasse um orgão executivo para cada vontade...
    Restam duas soluções; aquela que que o golpe militar de 25 de Abril, depôs, ou a actual, que umas vezes mais, outras menos se define indefinidamente. Ou seja; governa às apalpadelas e por impulsos, ora democráticos, ora ditatoriais, ora de pura inspiração, ora de pura sujeição, umas vezes fundamentado em regras científicas, outras por total improviso.
    Bom... quem sabe?! Não foi assim, de improviso, à aventura, que no tempo dos navegadores, muitas descobertas se fizeram?!

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  2. Não creio que as "Descobertas" tenham sido feitas às apalpadelas ou por impulsos, mas sim a uma organização complexa e bem elaborada, tão bem elaborada que deu a impressão de ter sido devido ao acaso.
    A solução governativa atual não é má, o pior são muitos dos súbditos, que são maus, muito maus. O problema está sempre no mesmo, ou, melhor dito, nos mesmos...

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  3. O caro Professor, apoia a tese de que D. João II, o Infante, Cristóvão Colombo, etc. Receberam a visita de seres celestiais que lhes transmitiram antecipadamente, conhecimentos extraordinários que lhes permitiram acreditar no sucesso das empresas que levaram a cabo?
    Bem falta fazia nestes nossos tempos, a visita desses seres.
    Se elas aconteceram de facto, e hoje não sucedem, podemos inferir que ou não existe nada para descobrir, ou então, que a humanidade não está apta a fazer bom uso daquilo que de extraordinário houver ainda para conhecer.
    ;)

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  4. Não digo que tenham recebido a visita de seres celestiais, Bartolomeu, mas não podemos esquecer que os judeus sefarditas possuíam um nível de conhecimentos científicos e técnicos excecionais para a época em questão. Ciência, técnica e muitos bons neurónios em funcionamento, mais a manhosice de alguns e pronto, estavam lançadas as bases.

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  5. "A césar o que é de César"
    "Aos Judeus o devido reconhecimento"
    Não tenhamos dúvidas que muitos dos êxitos alcançados nas descobertas marítimas e ainda no comércio com outros povos, se fica em boa parte, a dever ao povo Judeu.
    Devemos-lhes também vastos e preciosos conhecimentos matemáticos, astronómicos e de medicina.
    Mas não nos podemos auto-excluir do processo que ocorreu durante meados do século XV, XVI e ainda no início do séc. XVII.
    Não nos podemos esquecer ainda, que o povo judeu possuía muito do conhecimento que nos faltava, mas... não possuíam pátria, fomos nós "espertinhos da Silva" que lha demos, em troca do conhecimento que usámos para descobrir os caminhos que facilitaram o comércio que eles sabiam gerir muitíssimo melhor que nós.
    Uma fase da nossa história que, semelhante a muitas outras que foram decorredo, tal como a actual, nunca resulta somente do empenho, da arte e do ´génio deste povo estranho que um dias parece abençoado por Deus, mas no dia seguinte... atentado pelo diabo...
    ÓH raios partam isto tudo, para ver se se começa algo de novo de que um dia os nossos netoas se possam orgulhar.

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  6. Não tinham pátria! Oh Bartolomeu, não diga uma coisa dessas. Eles consideravam-se portugueses. Um dia destes, por causa deste comentário, vou-lhe contar uma pequenina história. A pátria não era só propriedade dos cristãos. Religião deve ser uma coisa, pátria é outra. Lá irei...

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  7. Na minha opinião, não estou a levar em linha de conta a religião, caro Professor. E quando me refiro a pátria, não estou também a pensar no lugar de nascimento, mas sim, na origem, no lugar de Israel.
    O povo Judeu tinha pátria, mas não tinha possibilidade de viver na sua pátria, para além disso, toda a Europa os escorraçava. Por medo certamente de que, devido à sua superior intelectualidade, viessem a sobrepor-se a dominar em vários campos importantes da sociedade.

    Mas, como calculará, fico a aguardar com o máximo interesse, a partilha de saberes que da sua pessoa me possam chegar.

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