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Os pinheiros estão a morrer!

Confrange-me ver o estado a que chegaram os nossos pinhais, doentes, moribundos, mortos, sem vigor, sem alegria, sem cor, sem as ramas frondosas de outros tempos, autênticos palitos espetados na terra como se tivessem sido acabados de utilizar por algum alarve monstruoso no final de uma refeição copiosa. Não fazem mal a ninguém, mas são vítimas de maus tratos e abusos, o fogo ou então larvas esfomeadas que se alimentam da sua seiva. Não se queixam, não sentem dor, sempre calados, apenas desejosos de que os deixem absorver os raios do sol, no fundo vivem no Nirvana. Há algo que os corrompe, a doença migra e destrói-os. São muitos? Sim, e vulgares, tão vulgares que poucos olham para eles com olhos de ver. Conhecemos alguns pessoalmente, com os quais estabelecemos laços de amizade, até porque crescemos com eles. Há dias olhei para os condenados e recordo-me de em tempo andarmos à disputa a ver quem crescia mais rapidamente, perdi, como é óbvio, mas agora perdi-os de outra forma, o que não me parece tão óbvio. Estão a ser corrompidos por outras formas de vida, sequiosas, tão sequiosas que nem dão conta de que estão a matar a sua fonte de alimentação. A corrupção é mais ou menos isso, crescer, conquistar, dominar, multiplicar sem respeito pelos direitos dos outros. E certos outros, neste caso os pinheiros, não sabem como defender-se e ali estão, altos, decadentes a servirem de pasto a formas minúsculas de vida. A vida alimenta-se da vida dos outros. Na sociedade as coisas não são muito diferentes, certos humanos comportam-se como verdadeiras larvas, sugando o máximo de seiva que consigam. A natureza é eminentemente corrupta, vive da corrupção, sempre que pode uma espécie qualquer liquida quem a alimenta, e tanto se lhe dá como não que a outra desapareça, mesmo que isso condicione o seu futuro. A consciência deste fenómeno fez despertar a necessidade de o contrariar, como se isso fosse possível, mas muitos continuam a acreditar e fazem todos os esforços nesse sentido, embora pessoalmente esteja convicto de que nunca iremos atingir esse fim, um fatalismo anunciado. A única coisa boa é a sensação poética de que poderíamos mudar a ordem do universo, mas é apenas uma sensação, a realidade é outra. Nós os vulgares, os equivalentes a belos e frondosos pinheiros, estamos a ser atacados por larvas terríveis que se alimentam todos os dias da nossa seiva, levando-nos à morte anunciada, lenta, mas certa, roubando-nos dignidade, tirando brilho aos nossos ramos, desfolhando-nos, até que um dia, quem sabe, alguma alma se lembre de matar as larvas contaminantes, matando primeiro

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