Avançar para o conteúdo principal

A monja, a ética e o capitalismo.

Corre na comunicação social, e nas redes sociais, notícias e artigos de opinião sobre uma monja catalã, médica e teóloga, que critica de forma muito direta o capitalismo por não ser ético. Ao analisar com detalhe a sua posição não vislumbro nada de novo, de facto não há ética nem no capitalismo, nem no marxismo nem em muitas outras coisas que andam por aí. É por ser monja que merece tanta atenção? É por querer referenciar os princípios éticos como a base primordial de condutas que permitam respeitar a dignidade das pessoas? Seja. A monja atinge seriamente os senhores do Goldman Sachs pelas mortes provocadas por esse mundo fora devido à miséria e à fome que provocam com as suas condutas, condutas a quem alguém chamou "assassínio organizado". Nada de mais verdadeiro. Obviamente que estas organizações fazem recordar outras que tiveram atitudes menos éticas tal como a igreja a que pertence e que ainda hoje é vista com alguma desconfiança face a certos objetivos muito pouco cristãos, como o que está acontecer com o "Banco do Vaticano" e as suas ligações perigosas.
Tive oportunidade de comentar algo sobre este assunto, a monja e a sua crítica ao capitalismo sem ética, dizendo que realmente não se consegue vislumbrar qualquer preocupação ética, apesar das tentativas frustadas de branqueamento nesse sentido. O capitalismo borrifa-se para a ética, mas não é só ele, o mundo em que vivemos é que não é ético e o ser humano não está para aí virado. Não sinto que deva ter dúvidas a propósito desta minha afirmação, a não ser que me convençam do contrário. Mas achei interessante uma reação em que li o seguinte: "Não será ao contrário - "a ética não é capitalista"?" Se fossemos por esta visão, então, também a ética não é marxista, nem muitas outras coisas mais. A ética tem muito que se lhe diga, é uma construção humana que pretende aliviar-lhe a consciência ao mesmo tempo que aponta para um destino do qual o homem foge constantemente. Mas está bem, sempre é uma bela tentativa, talvez, quem sabe, se um dia terá algum fruto. Eu não acredito. Não tenho motivos para acreditar. A génese do ser humano é muito particular, não tem o tal sopro divino que nos querem convencer e que nos permitiria alcandorar a uma nova e superior espécie. Basta ver o passado e o presente. O futuro não será muito diferente.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

Nossa Senhora da Tosse

Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp...

São Sebastiao

Tarde de domingo de inverno. Um sol infantil diverte-se convidando os desejosos de calor a espraiarem-se debaixo dos seus raios. Não lhe respondi, tinha de ir a um funeral. Na estrada secundária observei um movimento inusitado para aquele lado meio deserto. O que é que estará a acontecer? Ao fim de meia centena de metros observo uma mancha escura e silenciosa a invadir a estrada. Estacionei o mais possível à direita para deixar passar uma estranha procissão. Para a terríola era muita gente, de idade a maioria, vestidos de escuro, com uma ou outra criança com ar divertido e um casal de namorados que, indiferentes ao momento, iam manifestando ternura amorosa. Os devotos iam ao molhe, sem ordem, até pareciam uma coorte romana a ir para a batalha. As suas faces eram dignas de fazerem parte dos quadros da Paula Rego. Ainda procurei sinais de alguma devoção, mas, sinceramente, não consegui vislumbrar, pelos menos nos que foram alvo da minha atenção. Senti que nos tempos do paganismo hordas s...