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Ora...

A tarde não ia mal, até que surgiu a jovem rechonchuda cheia de tatuagens mal feitas e sem gosto. A certa altura do exame comunicou-me que estava grávida. Na semana passada fui à médica que disse que estava de quinze semanas, então, agora está com dezasseis. Hum, pois, deve ser. Ao levantar-me para a examinar passo pela cadeira onde se tinha sentado e vejo um pequena carteira, um telemóvel e um maço de cigarros preto, John Player Special. Desculpe-me, mas a senhora não fuma, pois não? Fumo. Fuma? Grávida? Mas isso não é aconselhável. Eu sempre fumei, ripostou. Foi então que tive de argumentar, tentando proteger a saúde da criança, explicando-lhe os riscos e a falta de respeito pelo filho. Quanto a si não tenho nada a dizer, fume ou não fume o problema é seu, mas quanto à criança tenho o dever de a proteger. Devo ter ficado com cara de poucos amigos e tinha razão para isso. Fiquei visivelmente incomodado e a jovem não deve ter gostado nada da conversa. Que se lixe, pensei. Saiu e continuei a minha atividade consultando outra pessoa, no final lembrei-me que não tinha pedido a assinatura de um documento à jovem grávida. Pedi à secretária para ver se a senhora ainda estava, não, já saiu, mas pode ser que esteja lá fora. Foi ver. Passados poucos segundos entrou e disse-me, está ali, senhor doutor. Por que é que não lhe disse para voltar, a fim de assinar a ficha? Eu disse-lhe, mas está a fumar um cigarro, depois de acabar eu vou lá. Ela disse isso? Disse. Ora porra! As restantes pessoas que estavam na sala entreolharam-se perante a minha exclamação. Não expliquei a razão e nem tinha que explicar.
Ora porra!

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