Há momentos da vida que são recordados com mais intensidade do que outros, não por serem mais graves ou mais intensos, apenas porque se associam a festividades que, pela sua natureza, acabam por os colocar no altar da injustiça, no cofre da indiferença e no cemitério da dor, obrigando a refletir sobre a incompreensão do erro da vida. Um erro monstruoso e sem sentido com o qual vivemos o nosso dia-a-dia. Nem mesmo as palavras de paz, os votos de felicidades, as mensagens estereotipadas e as inúmeras ceias são capazes de encher o bandulho da alma. Mesmo que sintam algum conforto gástrico ou mental promovidos por um bacalhau quente ou regados mais à-vontade com um vinho de melhor qualidade não conseguem esconder tudo o resto. É apenas uma forma de fingimento, porque serão muito poucos os que ainda acreditam na solidariedade, na esperança de melhores dias ou na vontade de transformar o mundo, e os que acreditam, ou fingem acreditar, andam bem recheados todo o ano. Os outros estão condenados ao sofrimento, à dor e ao desespero, não fingem, sofrem mesmo, mas mesmo assim querem acreditar...
Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.
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