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Sedução



Jogar é uma atividade permanente da nossa espécie, serve para aprender, serve para crescer, serve para divertir, serve para competir, serve para tudo, serve até para seduzir. Todos procuram a sedução. Seduzir e ser seduzido não é mais do que a procura de uma estranha sensação, momentânea, bela, rica, cheia de cores e de sons, que nos faz deslizar num precipício de doce prazer, que se esgota rapidamente na indiferença, convertendo-se amiúde num pesadelo, relembrando dolorosas agonias ou antevendo o fim num estertor melancólico. Todos procuram a sedução, sabendo que acaba normalmente em cinzas de desespero, fertilizando sofrimentos e sentimentos que a memória se recusa a esquecer. 
Ninguém esquece um olhar, um som, uma imagem, uma carícia, uma palavra, uma brisa, uma nuvem, um raio de sol perdido, uma queda de água tímida, uma árvore vaidosa, uma bela flor solitária, uma lembrança perdida e achada à esquina de um trivial dia, ninguém esquece, todos querem recordar para poderem sentir a mais estranha das sensações, o sabor da sedução, uma sensação momentânea, bela, rica, cheia de cores e de sons que nos atrai para o poço do prazer, onde, por mais voltas que demos, nunca conseguiremos afogar-nos. Um desejo negado aos sentidos e às almas loucas de desejo.
Os jogos de sedução são efémeros e intensos. Quem é que consegue saborear a doçura da liberdade que aprisiona os sentidos e as emoções das almas?

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