Cada vez mais me convenço de que a melhor forma de viver é passar despercebido, comentar anonimamente ou não ter qualquer relevância pública. Ser uma merda entre os demais deverá ser a regra número um para garantir às nossas existências o máximo conforto. Presumo que esta regra é crucial, determinante mesmo, para se chegar a algum lado sem sobressaltos de maior ou, então, sempre evita que sejamos vítimas de mal entendidos.
Ler um texto de um autor anónimo é completamente diferente de um conhecido. Se for anónimo, ou desconhecido, o resultado é um, mas se o leitor conhece o autor, então, as coisas mudam de figura. Lá diz o ditado que "santos ao pé da porta não fazem milagres". Claro que não, e os outros idem aspas aspas, mas como ninguém os conhece ainda lhes é dado o benefício da dúvida de que são os melhores, até mesmo santos, fazendo-se, muitas vezes, de santinhos, para convencer o próximo. Gaita. Começo a estar farto de tanta prosápia, de incompetência, de arrogância, de mal entendidos, que não são mais do que fotografias tipo polaroid tiradas por gajos sem qualquer arte ou competência para o que quer que seja. Faça-se um qualquer comentário, sério, justo, equilibrado, respeitador, eivado ou não de alguma ironia, e a resposta é? Ficam enchouriçados até à raiz dos cabelos. E porquê? Porque nos conhecem! E se não nos conhecerem? Então, é certo e sabido que sentiremos as mais mirabolantes formas de agradecimento, de vénias ao belo estilo monárquico, de encómios tão ao gosto dos conselheiros acácios, enfim, uma retroalimentação dos que desejam ser reconhecidos. Deveria estar calado. Muitas vezes já estou, ou, então, sou "silenciado". Agora começo a compreender melhor a razão do anonimato. Tirando os sacanas, que não sabem viver com as suas almas, às tantas não passam de uns verdadeiros desalmados, felizes, sem sombra de dúvida, os restantes encontram no anonimato a forma de evitarem ser catalogados em função desse prévio conhecimento, fonte de preconceitos perigosos. Uma forma de encontrar a imparcialidade? É muito provável, começo a acreditar que sim. Por enquanto ainda vou aguentando o embate, aqui, neste espaço, não tenho grandes razões de queixa, pelo contrário, tirando as estatisticamente previsíveis, mas até essas, com algum cuidado, disposição e tempo, sempre se consegue minimizá-las e até revertê-las. No facebook as coisas são mais complicadas. De uma forma geral os comentários provêm dos amigos, simpáticos, amorosos, sendo raro que alguém discorde, o que não é muito bom sinal. E quando tal acontece abre-se o saco da bílis negra, acumulada, à espera de um bom colagogo, papel que, pelos vistos, sou capaz de exercer. Que aborrecimento. Bem, pelo menos não tenho, ainda, um papel laxante, porque se um dia me der para aí, então, o melhor é apertar o nariz!
Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.
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