De manhã aparece na TV uma menina a
falar de bolsa. Uma jovem que metralha números, tendências, diminuição do "PSI qualquer
coisa", fala das ações que sobem e sobretudo das
que descem, porque a tendência é para diminuir quer cá quer noutros sítios. Irrita-me muito aquele paleio e finjo que não ouço. Ao longo do dia, através do rádio do carro, surgem as notícias irritantes da bolsa de Lisboa. Assim que o locutor
liga, penso que é para a Reuters, aparece uma
menina, é sempre uma menina de voz
fresca que me obriga a imaginar quais deverão ser as suas características, que, invariavelmente, diz que está no negativo, a descer, outras vezes a subir, mas as décimas de aumento são tão patéticas que o melhor seria estar
calada. Apesar de não ser especialista nestas áreas, nem para lá caminhar, sei o suficiente de
que uma diminuição das ações cotadas em bolsa é negativo, traduz problemas da
economia e, naturalmente, reflete a má situação. Logo, nem consigo imaginar de forma "visível" quais deverão ser as "linhas" da
menina, porque mudo imediatamente de estação. Não é que me preocupe muito o valor
de algumas ações que tenho. Não são muitas, e adquiri-as porque
um dia, há muitos anos, um gestor de
conta quase que me obrigou a comprá-las. Eu ainda lhe disse que não valeria a pena, mas o paleio do senhor foi de tal modo
convincente que acabei por adquirir algumas. Saiu-me caro a brincadeira, porque
as ações eram do banco em que tinha,
e continuo a ter, algumas das minhas poupanças. Passado algum tempo
aquelas "coisas" começaram a baixar lentamente, mas
depois a descida acelerou-se e, quando reparei que o valor das mesmas era muito
mais baixo do que quando as adquiri, dei-as por perdidas, sem deixar de lançar uns desabafos em que a mãe do senhor gestor de conta,
entretanto "desaparecido", não ficou incólume, e sem culpa nenhuma! Mais tarde fiquei a saber que o
"chefe" do banco sabia o que andava a fazer. Um artista!
Não consigo ouvir as notícias sobre a bolsa, irritam-me, causam-me ansiedade, não porque pretenda obter mais-valias daquelas
"porras", mas pelo sinal negativo da situação económica. Mas não são só estas notícias, outras, as de natureza
política, também me andam a perturbar o meu refluxo gastroesofágico, o que não é nada agradável. Evito ouvi-las, arranjo
pretexto para fazer outras coisas, poupando os meus neurónios a tantas agressões e disparates. Depois há aqueles casos em que os políticos que nos governam se
metem em sarilhos, dando a ideia de que são irresponsáveis e de que não passam de ingénuos. Como é que é possível que certas raposas tão sabidas caiem em certas situações? Depois há os comentadores
profissionais, ou não, que aparecem a dar palpites
com ar de profetas bíblicos. Mas há ainda os crónicos comentadores amadores
que, no facebook ou nos blogs, opinam de todas as formas e feitios sobre tudo e
todos, propondo como se devem comportar os "outros", os
"outros", neste caso, são os seus opositores políticos, porque quando se trata dos "seus",
moita-carrasco!
Não sei se estas condutas serão ou não perigosas, mas que me causam
desconforto, lá isso causam. O que é que posso fazer? Não os ouvir, pelo menos durante
alguns meses, esperando que as coisas mudem ou melhorem. Um silêncio autoproposto.
Não pretendo com esta reflexão que os outros se mantenham silenciosos, como preconizou o
reitor da Universidade do Porto ao apelar "ao silêncio para não criar mais problemas, uma
vez que Portugal está numa altura em que a
psicologia é fundamental e as coisas
depressivas não ajudam a construir o país.
Acho que se estivéssemos seis meses todos
calados, não criássemos mais problemas do que os que já existem e deixássemos as coisas correr, daqui
a seis meses, trabalhando, veríamos que as coisas até evoluíram melhor do que o que pensámos".
Espero que sim, que melhorem com toda a sinceridade, e que
daqui a alguns meses possa aguentar as notícias da bolsa a subir e
entreter-me a imaginar quais serão as formas das detentoras de
vozes frescas e suaves. Quanto às minhas ações, que se lixem...
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