A epidemia da Sida/VIH tem vindo a sofrer modificações apreciáveis para as quais têm contribuído a investigação epidemiológica, clínica, molecular e terapêutica. Nalguns países a situação ainda não está controlada, embora se note uma diminuição da incidência e da prevalência que, nalgumas comunidades, tiveram, e ainda continuam a ter, expressões mais do que dramáticas. De qualquer modo, deixou de ser um símbolo da morte passando a ser considerada como doença crónica a par de tantas outras.
As medidas de prevenção e de tratamento têm tido sucesso, sobretudo este último ao diminuir de forma acentuada a capacidade de transmissão do vírus. Quanto à prevenção, o conhecimento da realidade próxima, íntima mesma, de muitos, sobretudo em África, onde dificilmente haverá alguém que não tenha tido um familiar atingido pela doença deverá ter sido determinante para a mudança de hábitos e comportamentos, à qual se associa a proteção devida ao uso de preservativos, tão contestados e "desvalorizados" por algumas correntes ideológicas que um dia terão de se explicar, e quem sabe se não terão de pedir mais uma vez desculpas. A história estará no futuro atenta a este pormenor. A par de inúmeras medidas divulgadas, há uma que não sendo uma panaceia tem-se revelado como particularmente protetora na propagação do vírus, a circuncisão, técnica reconhecida pelas autoridades de saúde mundiais. Ao cortar o prepúcio elimina-se uma zona atreita a traumatismos e à "apetência" de certas células que andam naquela zona hipervascularizada para o vírus, diminuindo o risco de transmissão que pode chegar aos sessenta por cento! Neste caso poderemos interrogar se se deveria ou não proceder à sua implementação, com vista à redução da propagação deste flagelo, e se a prática, habitual entre judeus e muçulmanos, deveria estender-se ao ocidente cristão. Aqui começam a levantar-se alguns problemas, nomeadamente se é lícito "mutilar" ou não uma criança com base em princípios religiosos. Recentemente, na Alemanha, um tribunal, presumo de Colónia, proibiu a circuncisão em consequência de uma complicação surgida numa criança muçulmana. Agora, os meninos quando tiverem "idade" poderão pedir para ser circuncidados de acordo com as suas crenças, mas não se pode impor como uma justificação religiosa aos pequeninos. Concordo perfeitamente. A polémica vai-se instalar porque os judeus alemães já vieram a terreiro a invocar os seus direitos com base na arrogância religiosa. Afinal em que ficamos perante esta situação? A circuncisão deverá ser praticada por motivos médicos, o que é manifestamente óbvio, e em zonas "endémicas" ser aconselhada a sua prática desde que os jovens tenham idade para compreender o que se está a passar. O aconselhamento à circuncisão poderá ser uma boa prática aliada a outras medidas de prevenção, nomeadamente o uso de preservativos.
Estou curioso para ver qual a atitude dos que no ocidente cristão se "insurgem" contra o uso do preservativo ao serem confrontados com uma prática de duas das três religiões da Aliança entre Abraão e Deus, que foi "assinada" de uma forma, sejamos sinceros, um pouco cruel, e que continua em prática.
Não à circuncisão de criancinhas inocentes por motivos religiosos, elas que cresçam e que deixem cortar o prepúcio à vontade se estiverem para aí viradas, o que não deve ser muito complicado, perante as tatuagens e piercings que vejo. Sim à circuncisão por motivos patológicos. Sim ao aconselhamento para que se faça a circuncisão, reduzindo o risco de contaminação pelo VIH. Tudo o que vier à rede é peixe, tudo o que contribuir para reduzir a transmissão do VIH é bem-vindo.
Concordo, caro Professor.
ResponderEliminarApós ser comprovada a eficácia da circuncisão, a ablação do prepúcio, deixa de ser uma questão estrictamente religiosa, passando a ser também de saúde pública. Se bem que, no caso da religião Judaica, pelo facto do seu hermetismo, e como sua consequência, não serem permitidos contactos de caracter amoroso com membros pertencentes a outras religiões, e porque teológicamente os preceitos religiosos são cumpridos à letra, como por exemplo, a proibição do sexo fora do casamento, talvez não faça tanto sentido.
Aliás, se a questão fosse colocada em termos estrictamente religiosos e teológicos, verificar-se-ia que em todas as religiões existem "leis" que ao proibir determinadas práticas (considerando-as pecados) estão ao fim e ao cabo a prevenir o contágio de doenças de carácter sexual.
Mas os tempos das Santas Alianças foram corrompidos, houve um curioso que levantou um cantinho da tampa da Arca e, olhe... foi um ver-se-te-avias. Hoje, desde os anúncios aos detergentes, passando pela roupa íntima, os perfumes, até aos automóveis, são um convite e um estímulo constantes, não direi à prática aleatória do sexo, mas à corrupção ética da utilidade do corpo, despindo-o o mais possível, e colocando-o em poses sugestivas de lascívia.
Mas, como muito bem diz o Caro Amigo... em primeiro lugar, é preciso que as pessoas entendam as questões e os riscos que envolvem, depois, optem por aquilo que se enquadrar nos seus princípios éticos, religiosos, morais... whatever.
;)