Não passa um dia em que não assista
ataques à ciência e às teorias que nos permitem ver o mundo. O
comportamento dos criacionistas exige atenção e muito cuidado, não vão
um dia "proibirem" que se produza ciência.
Num editorial da Nature, Russel
Garwood analisa o aproveitamento sistemático de certas notícias por
parte dos não cientistas para desacreditarem o evolucionismo. A última
foi a propósito das penas de um grande dinossauro recentemente
descoberto e as penas das aves.
Os movimentos criacionistas
estão em crescendo, obrigando que, nalguns estados norte-americanos,
através de leis, seja ensinada a "fraqueza da evolução". Estes grupos
reiteram continuamente os "hiatos" da evolução, e, também, utilizando
alguns achados, como a não evolução de algumas espécies, que se mantém
inalteráveis há mais de 350 milhões de anos, como sendo "provas" da
criação. Os cientistas, perante estas críticas, dizem que não sabem os
porquês. E dizem muito bem, porque a ciência é sinónimo de incerteza,
embora tenha uma única certeza, sabe que nunca conseguirá dar resposta a
todas as questões. Aqui poderíamos desenvolver um pouco mais o tema,
relembrando que a ciência tem como objetivo ajudar a pensar e a ver o
mundo com base nos níveis de conhecimentos do momento. É por isso que as
ideias científicas são credíveis, não por serem totalmente verdadeiras
mas porque sobreviveram às críticas do passado e expõem-se de peito
aberto às que qualquer um queira fazer.
As teorias científicas estão em constante mutação e transformação, mas o que importa não é propriamente o que a teoria diz, mas sim a forma como ela nos permite ver o mundo. Desaparecem, são substituídas, mas a forma como nos permitiram ver o mundo ficou e ficará.
Numa recente entrevista de Carlo
Rovelli, como seria de esperar, veio à baila a problemática da religião
e da ciência. Não há volta a dar, o choque é inevitável, embora não
necessite ser tão duro, e deve-se exclusivamente ao facto de a ciência
não conseguir ou poder dar respostas, o tal grau de incerteza que nos
incomoda, e bem, na minha perspetiva. A religião, como não aceita o tal
grau de incerteza, tem certezas absolutas, tem de entrar em conflito com
a ciência. Talvez seja esta a principal razão porque certos movimentos
focam a sua atenção e ataquem à ciência, e não são só os "bíblicos",
porque entre os muçulmanos é também moeda corrente, basta olhar para o
currículo oficial do programa de biologia do Paquistão que obriga os
estudantes a aprender que "Alá é o criador e o sustentador do universo"!
A ciência não põe em causa a
crença de ninguém e nem pretende substituir Deus, caso exista, porque,
também, nunca o poderia fazer, dado que aborda apenas as incertezas da
vida e do universo, limitando-se a ajudar-nos a ver o que se passa com o
cérebro que possuímos. Mas é bom estar atentos aos movimentos
anticientíficos, que não se esgotam neste quadrante. Se os movimentos
anarquistas começarem a adotar o comportamento da "Informal Anarchist
Federation International Revolutionary Front", que alvejou o patrão de
uma companhia de engenharia nuclear "para devolver uma pequena parte do
sofrimento que vocês, homens da ciência, colocam no mundo", então
estamos feitos ao bife.
O mundo começa a ficar um pouco
preocupante para os homens da ciência, se de um lado o "cheiro a bispo"
ameaça retornar, do outro a ameaça não é menor, já que uns tiros nas
pernas não é nada agradável.
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