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Mensagens

Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.
Mensagens recentes

"Salvem todos"...

Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.

"Vazio"...

Zisi , neto de Confúcio, foi um filósofo interessante. Segundo ele as pessoas sábias deveriam copiar a realidade para dentro de si, princípio patenteado no seu livro, "Doutrina do Meio". Para compreender os acontecimentos da vida é preciso uma mente "vazia", ou seja, é necessário esvaziar as nossas cabeças no dia-a-dia para poder pensar. Um conceito interessante a lembrar um outro, o de Zaratustra de Nietzsche. Sempre que observamos um objeto, ou experimentamos um acontecimento, só o podemos ver sob uma nova luz se a nossa mente estiver "vazia". Mas há um grande problema a ser resolvido. Como esvaziar uma mente cheia de "conhecimentos"? Há duas possibilidades, através da empatia e da justiça social. No primeiro caso, se alguém estiver a sofrer devemos entrar na mente do sofredor, e não ficarmos pela análise e crítica aos sistemas sociais de proteção que garanta o bem-estar social. Se virmos que existe poluição num rio, pudemos utilizar os conhe

Cauteleiro

Fui até Viseu depois de almoçar. O habitual, o sol empurrou-me até à "minha" cidade. Bebi o meu terceiro café. Ando a abusar, mas não faz mal, sempre "respeito" as últimas novidades sobre os efeitos na saúde. Chamo a isto "abuso científico"? Não. Estou-me borrifando para as novidades e efeitos benéficos na saúde, porque o que eu quero mesmo é descobrir locais onde possa beber um bom café. Chamo a isto "abuso hedonista". Depois, a meio da tarde ainda acabei por chegar ao quarto, e já tinha passado das quinze horas. Só espero conseguir dormir. Voltando a Viseu, fui até à "minha" esplanada, Faces. Começo a ser "dono" de muita coisa. Bom sinal, sinal de que me sinto bem em locais onde sou bem tratado, eu e o meu cão, que sabe que vai ter tratamento VIP com duas valentes fatias de fiambre e poder olhar para os transeuntes sentado ao meu colo. Nem se mexe. A cidade também é dele.  A Rua Direita é uma inquietação. Sempre foi, sobr

São Sebastião

Já tive oportunidade de explicar a razão de gostar do São Sebastião, capitão da guarda pretoriana de Diocleciano, imperador romano. Sendo cristão, era benévolo com os crentes, facto que o levou a ser considerado como traidor e condenado à morte por flechas. Lançado ao Tibre acabou por ser resgatado por Irene, mais tarde elevada aos altares. Presente perante o imperador acabou por ser executado através de espancamento e o seu corpo lançado nos esgotos de Roma. Foi objeto de várias obras, uma delas li em pequeno, Fabíola, de   Nicholas Wiseman , cardeal. Nunca mais esqueci a belíssima capa do livro. Também foi objeto de outros autores, de forma sedutora e encantadora. Desde pequeno me fascina a sua imagem, tronco nu, amarrado a um tronco e cravejado de flechas. Portugal tem uma característica religiosa que considero única. Em todas as procissões, sejam elas em honra de quem for, aparece sempre um São Sebastião. Está presente em muitas igrejas e quanto a capelas, upa, upa, é dif

"Os frangos de Barrelas"...

Fui por velhos caminhos tentando saborear a tarde. Não choveu. Entrei na localidade, que conheço muito bem, mas não consegui estacionar à maneira. O Pipoca tem o condão de condicionar a nossa vida. Não me incomodo. Queria tomar um café, mas não consegui estacionamento perto. Rumei até outra localidade, a antiga Barrelas. Seduz-me andar pelas Terras do Demo. Gosto imenso de Aquilino e ainda mais das gentes que transpiram alegremente a beleza e a dureza de um viver que teima em respirar como se o passado estivesse mesmo à nossa frente. É como estar em casa. Sabia onde ir. Antes de estacionar, no amplo terreiro, visualizei o comerciante dos frangos assados sentado com ar pensativo junto da sua carrinha bem apetrechada. Devia ter havido feira na parte da manhã. No largo restavam dois ou três comerciantes a levantar as tendas. O "frangueiro" pensava sobre a vida e o negócio do dia. Abrandei e disse-lhe: - Já regresso. Arranje um frango. Vamos só tomar um café. Acordou de uma apar

"Silêncio"...

Desde muito pequeno que me apercebi da forma estranha de falar das pessoas. Escapava à minha pobre razão em germinação. Passavam de conversas altas, livres, soltas e francas para sussurros baixos, inquietos e misteriosos. Um contraste violento mesmo para uma criança. Atento a certos pormenores, depressa compreendi que não se podia falar de certos assuntos e de certas pessoas. Corriam risco de virem a ser incomodados. Presenciei, mais tarde, a alguns episódios.  Às vezes era surpreendido pelos adultos. - Estavas a ouvir? - Estava. Mas não percebia patavina. - Nunca digas a ninguém o que estávamos a dizer. Ouviste? - Ouvi. Mas porquê? - Porque, porque... Gaguejavam e terminavam, podem fazer-nos mal. - Mas quem? Perguntava. - Não interessa. Tens é de estar calado. Está bem? - Está. Eu não digo nada. E não dizia. O que é havia de dizer se não percebia grande coisa? Não sei se já tinha alma de túmulo, de qualquer modo adotei esse comportamento. Ainda hoje é a mesma, só o tempo é que é di

Pantominice

Este país está recheado de pantomineiros de toda a espécie. Quando leio ou ouço as notícias concluo que começa a ser difícil encontrar uma área que mereça confiança. Anda tudo ao desvario. A loucura generalizou-se. Os responsáveis não passam de meros fingidores. Afinal o que é que querem? Ganhar a vida, tentar a sorte, desfrutar o bem bom e fingir que se interessam pelo semelhante? É o mais certo.  A diversidade comportamental tem de tudo, inclusive a sacanice a hipocrisia. Surgem os velhos mecanismos de sobrevivência, agora culturizados, porque os biológicos ficam adiados para situações extremas. E mesmo assim, por vezes, surgem em toda a sua violência.  Todos os esforços feitos no sentido de dar credibilidade à espécie humana e, no nosso caso particular, à tal "velha nação", caiem aos trambolhões pela rua da amargura.  Nunca vi, e também nunca pensei, que fosse possível tanto desaforo, tanto oportunismo, tantos trafulhas, tanta pantominice, tanto ladrão, tanto filh

Gratidão

Gosto de apreciar os comportamentos dos animais. São, de um modo geral, admiráveis. São capazes de transmitir emoções e sentimentos. Mesmo que esteja a ser herético, julgo interpretar algumas das suas reações como manifestações superiores apenas atribuídas aos animais com alma, nós, os senhores que tomaram conta do mundo e que criaram uma hierarquia à custa dos deuses para se colocarem no topo de tudo e de todos. Enfim, uma boa estratégia.  À minha frente, os pássaros, animais que se caracterizam por uma independência difícil de explicar, fazem a sua vida. Cantam, saltam, comem, beijam-se e tomam conta com carinho de cinco lindos ovos. O Romeu e a Julieta, que vieram substituir a fuga do Trump e da Sissi, adaptaram-se muito bem ao novo ambiente, a ponto de a Julieta começar a por ovos sem hesitação passado pouco tempo após a chegada. Não temem o cão. Viajam e dormem lado a lado sem qualquer problema. Pelo contrário, quando temos de deixar o cão sozinho em casa, digo logo, vai ficar

Coimbra

Gosto de gerar uma boa conversa e aprender com ela. Há dias, numa consulta de rotina, a senhora falou do que andava a fazer. Arqueóloga de profissão. Fico fascinado com certas profissões e disciplinas. Arqueologia é uma delas. - O que é que encontrou recentemente e que mereça ser descrito? A minha curiosidade emergiu com intensidade. É fascinante ver como do outro lado a felicidade começa a irradiar quando fazemos perguntas que são do seu interesse. - Ando numas escavações junto ao rio. Fundações de uma ponte que alguns afirmam ser do tempo do rei D. Manuel. Fica perto da ponte de Santa Clara. Não estou muito convencida que seja. Depois falou das pontes que houve na cidade e da subida do rio nos dois últimos milénios, doze a dezoito metros. - Sabe que três conventos foram soterrados pelo rio? Conversámos imenso. Descreveu a vinda de barcos fenícios e das caravelas até ao início do século XVII. A vida de Coimbra devia ser intensa, cheia de ritmo, de cor e de calor sempre em redor do r

Espaço vazio

Qualquer espaço serve para congeminar e tentar descobrir o significado de muitos acontecimentos. No local onde me encontro, consigo substituir o vazio por recordações avulsas que se vão amontoando no meu sótão. São muitas. Quero encontrar um fio condutor mas não consigo. Do meio do pó saltou a imagem de uma cidade. Não recordo o nome. Vislumbro através das janelas de um edifício soberano um espaço muito acolhedor. Luz suave, poltronas apetitosas, um ambiente tranquilo que contrastava vivamente com o cinzento e o frio que se fazia na rua. Por uns momentos encostei-me, quase, a um dos largos vidros e contemplei a imagem que emergia do interior. Um senhor, vestido com muito cuidado, bigode acinzentado e pera branca, a testemunhar algum culto, “à cavanhaque”, cabelo prateado e brilhante, como se tivesse acabado de o aparar, lia um jornal. Braços esticados, porque ainda era a altura dos jornais de folhas largas, parecia que queria abraçar o mundo. Ao lado, na mesinha, onde um candeeiro lan

Descanso

Minutos breves de descanso. Saboreio a brisa quente do final da manhã. Não penso. É difícil não pensar. Só desejo sentir. Estranho não conseguir. Pensar é por vezes uma forma de matar. Matar o pensar é que é impossível de alcançar. Tento sentir e fugir ao advir. Não sei se consigo.  Ouço os sinos. Marcam o tempo e atormentam os meus sentidos. Não descanso. Só penso.

"A vida não mente"...

Quando o futuro se torna presente na forma dura e permanente da ausência e do esquecimento sente-se, não a dor, não o anseio, apenas a infinita preocupação de ver alguém partir sem saber e sem sentir o significado do verbo existir. É uma luz intensa que se vai apagando, lentamente. É uma alma que outrora foi iluminando quem precisou de forma sincera e ardente. Chegou o momento de necessitar de um braço e de pequenos encantos para quem tanto amou e cantou. A vida não mente ao anúncio da lenta morte que desconhece e que não sente.

"Apetece-me"...

Apetece-me escrever. Não me faltam motivos. Leio as notícias e fico incomodado. Não sei para quê. São sempre as mesmas coisas. A natureza humana desfruta a seu bel prazer a idiotice, a ganância, a sovinice, a trafulhice, embrulhados no mais poderoso dos desejos, o poder. Poder de mandar, poder de ter, poder de ofender, poder de humilhar, poder de escravizar, poder nas suas mais diversas versões obscenas. Uma espiral que nunca irá ter fim. No meio de tanta miséria e degradação surgem sempre alguns momentos e situações que são confortáveis. O amor, a solidariedade, a humildade, a honestidade e o prazer de confortar e ajudar o próximo são lindos, mas não passam de belos cometas que se passeiam pelo longínquo universo onde aparentemente se aloja o segredo da vida. Um encanto, uma miragem, uma utopia, saber que podemos encontrar as promessas de fantasia que um dia foram povoadas em pequenos cérebros convictos de que a vida seria a beleza prometida em cantos e contos de fantasia. Pouco mais

Ambivalência...

Nem sei como classificar certas opiniões sobre o comportamento das pessoas. Não sei mesmo se deva fazer isso. Às tantas não passo de um atrevido pretensioso. Às tantas. Mesmo assim não resisto a escrever o que sinto. É sempre uma forma de libertar algum mal-estar.  Fazer análises sobre o comportamento das pessoas e ficar, aparentemente, incomodado parece-me excessivo. Tão excessivo como a passagem da idolatria para a malquerença ou raiva inusitada. Esta ambivalência não é típica dos portugueses, não há nenhum povo que não a manifeste. Logo, o facto de identificar a tal ambivalência com os nacionais é excessivo e injusto . Este fenómeno é recorrente e universal. Deixem andar, o ser humano tem essa característica, ama e exulta num determinado momento para logo em seguida insultar, humilhar ou manifestar que se sente ofendido. Tudo relativamente às mesmas pessoas ou grupos. Não há nada a fazer. O ser humano tanto pode estar a criticar e a ofender injustamente o próximo num instante qua