Ambivalência...

Nem sei como classificar certas opiniões sobre o comportamento das pessoas. Não sei mesmo se deva fazer isso. Às tantas não passo de um atrevido pretensioso. Às tantas. Mesmo assim não resisto a escrever o que sinto. É sempre uma forma de libertar algum mal-estar. 
Fazer análises sobre o comportamento das pessoas e ficar, aparentemente, incomodado parece-me excessivo. Tão excessivo como a passagem da idolatria para a malquerença ou raiva inusitada. Esta ambivalência não é típica dos portugueses, não há nenhum povo que não a manifeste. Logo, o facto de identificar a tal ambivalência com os nacionais é excessivo e injusto . Este fenómeno é recorrente e universal. Deixem andar, o ser humano tem essa característica, ama e exulta num determinado momento para logo em seguida insultar, humilhar ou manifestar que se sente ofendido. Tudo relativamente às mesmas pessoas ou grupos. Não há nada a fazer. O ser humano tanto pode estar a criticar e a ofender injustamente o próximo num instante qualquer para logo em seguida ir a um santuário e rezar com a mais sincera humildade a deus, disponibilizando-se para satisfazer as suas divinas vontades. É sincero em qualquer dos instantes, no da raiva e da promessa incondicional de amor a quem venera. Se não venera deus, venera o seu substituto, a humanidade, que é igualmente um forma religiosa de estar no mundo. O problema não está na ambivalência, mas na forma como nos manifestamos. Na maioria dos casos é direta, grosseira e até mesmo brutal. Passa-se do "oito para o oitenta" numa fração de tempo. Os analistas comportamentais, do alto da sua sobranceria intelectual, - às tantas não sou muito diferente deles, mas que se lixe -, criticam essa conduta. Podem criticar e, até, generalizar as suas conclusões. Mas se analisarem bem, não fogem, também, a essa regra. São ambivalentes à sua maneira, talvez de forma mais sofisticada, mais cínica, mais hipócrita, enredando-se nas complexas teias da intelectualidade. No fim de contas não passam de seres ambivalentes como os demais. Apenas disfarçam melhor.
A ambivalência comportamental manifesta-se em todas as áreas. Do insulto à generosidade é um salto muito pequenino, assim como do amor à raiva, da sincera compreensão ao maldito preconceito, do humilde sorriso ao olhar de quem que lançar uma maldição. 
Nasceu connosco numa noite de um tempo que já lá vai e só desaparecerá na madrugada fria de um dia que nunca se saberá...

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