"Tempestade"...

Adoro as montanhas. Adoro ver as mudanças de humor, calma, suave umas vezes, agreste e bruta outras. Adoro ouvir as montanhas, adoro ouvir os seus sons, gritos de dor, urros de raiva, murmúrios de ternura, cantares de alegria e mudez de espanto. Adoro ver as montanhas. Têm vida, estão em constante movimento e são como os humanos, imprevisíveis, amorosos, violentos. Adoro as montanhas.
Hoje, a montanha assustou-me. Chorou de raiva e gritou de dor. Os meus ouvidos tremiam sempre que a ouvia. As nuvens esbarravam nas encostas. Fugiam com medo dos violentos ruídos. Hoje, a montanha encantou-me. Vi nuvens atarantadas sem saberem por onde ir. Vi pássaros suspensos no ar lutando pateticamente contra o vento. Hoje, a montanha seduziu-me. Se pudesse, ficava ali até desaparecer o seu mau humor e ver novamente a beleza da tranquilidade das folhas douradas, dos verdes da vida e o encanto do vermelho de bagas.
Hoje, a montanha acalmou-me. Regressei. Assim que cheguei pus-me a saborear as emoções vividas. Não havia tempestade, não havia chuva e não havia vento. Comecei a saborear as emoções vividas num ambiente diferente, mais calmo, mais doce, mais suave. Comecei mas não consegui continuar, uma tempestade originada na montanha desabou sobre mim. Não era filha da tempestade da montanha. As tempestades da montanha podem ser violentas, intensas, mas são leais, são genuínas. As outras tempestades, de natureza humana, não. São frequentemente injustas e desleais. Duas tempestades de montanha, a da montanha física, bela, assustadora, mas leal, contrastando com a de natureza humana, feia e injusta. Prefiro sucumbir às mãos de uma tempestade da montanha do que às mãos da ingratidão e injustiça humanas.
Adoro as montanhas. Adoro ver as montanhas. Adoro ouvir as montanhas. Assusta-me ver os seres humanos. Assusta-me ouvir os seres humanos. Os seres humanos assustam-me, assustam-me cada vez mais.
Prefiro as montanhas.

Santa Comba Dão, sexta-feira, 27.09.2013

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