Avançar para o conteúdo principal

Locais sagrados...

Tudo tem uma explicação, tudo tem um nome. Conhecer a origem das coisas ou o porquê do nome seduz qualquer um. Às vezes é fácil, existe documentação ou elementos que expliquem os factos ou as designações, outras vezes não é possível o que leva a investigar a origem. Mesmo que a investigação não corresponda à realidade pode ser sempre fonte de um novo mito. Os próprios mitos ou lendas são, por vezes, usados para lá chegar. É uma área das mais adoráveis, misturar lendas e investigação, criando e recriando novas verdades e interpretações.
Diz o investigador que as aberturas de todos os dólmenes do vale do Mondego estão viradas em direção à serra da Estrela. Quando foram construídos, há seis mil anos, a estrela Adelbaran, grande, tremelicando como só um coração do universo sabe fazer, enviando uma luz avermelhada, nascia por detrás do maciço rochoso convidando os homens e animais a beberem a vida que brotava naquele majestoso altar. O sentido religioso do homem compreendeu que o sagrado se deve pagar com o sagrado, o que fez com que construíssem os seus monumentos em locais tão belos e suaves.
Conheço alguns desses locais, próximos e remotos, autênticos portais do tempo, estranhos altares que nos ensinam a agradecer a vida e a beleza, uma simbiótica relação que devem ter descoberto há muito. O silêncio aquece a alma, o ar é o mesmo, os espaços circundantes não devem ser muito diferentes aos nossos olhos, os deles e os meus, e as pedras aquecidas pelo sol do verão devolvem o mesmo calor provocando sensações idênticas. Tudo em redor se move num silêncio adorável, as cores são as mesmas, sentaram-se nos mesmos locais, falaram, comeram e amaram naqueles templos naturais. Não os ouço, mas não é difícil adivinhar as suas presenças. Busco-os sempre que posso, e quando não posso tenho a solução, para isso basta-me recordar as sensações que têm produzido ao longo do tempo. 
É o que estou a fazer neste momento, viajar no tempo próximo e no tempo remoto, o meu tempo e o tempo deles, nos mesmos locais, sagrados, templos, onde consigo compreender o sentido da vida acasalado com a beleza. 
Locais sagrados, com nomes, com significados, convidando à criação de novas lendas que permitam perpetuar a vida e a beleza. É isso, o único sacrifício que pedem é um nome e que os perpetuemos em lendas, afinal, o seu equivalente a vida e beleza...

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

Nossa Senhora da Tosse

Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp...

"Salvem todos"...

Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.