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Direito à Sepultura...


Tenho acompanhado com algum interesse o folhetim do enterramento do jovem responsável pelo abominável atentado de Boston. A recusa liminar em dar sepultura ao corpo por parte das entidades oficiais, face à ausência de o mesmo não ter sido reclamado, traduz uma hipocrisia que merece ser analisada. As pessoas dessas zonas recusaram o direito a que o corpo pudesse ser enterrado nos cemitérios locais. No entanto, uma cidadã de outro Estado, manifestando a sua formação cristã, e invocando os princípios inerentes a esta prática, conseguiu solucionar o assunto. O que me intriga e incomoda são as palavras de alguns dirigentes religiosos. Consideram impróprio que o cadáver fosse colocado num local onde existem outros corpos constituindo tal facto um insulto para os familiares que ali vão prestar homenagem aos seus ou passar a ser um local de eventual "culto" no futuro. Aqui está uma perfeita demonstração da aplicação de princípios religiosos, hipocrisia levada ao seu expoente máximo. Resta saber se esta prática é usual com outros que praticaram crimes hediondos, ou apenas um caso pontual. Afinal, nem todos têm direito à sepultura. Não constitui tal decisão uma violação dos princípios de qualquer religião? Um povo que se  considera como muito religioso e que invoca Deus por tudo e por nada, até coloca o seu nome no dinheiro, não está a ser hipócrita? Resta a consolação de haver quem leve a sério certos princípios, mas que vai sofrer as passas do Algarve lá isso vai...

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Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

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Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp...