Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

"Duas crianças"...

A semana não foi das melhores. Fui abalroado por situações diversas que deixaram as suas marcas, diretamente ou através de recordações.  Magoaram. Pautaram-se por comportamentos indignos que caracterizam muitos seres humanos, injustiça, prepotência e falta de caráter. Não consigo habituar-me e nem fugir a estes quadros da existência. Nem mesmo longe, como a querer escapar à violência da vida, ao procurar a beleza de um tempo perdido, evitei o massacre. Que fazer, meu Deus? Não me importa que ouças ou não, que existas ou sejas fruto da imaginação, pergunto em teu nome como se encerrasse na curta pergunta o mundo, o universo e a razão da vida. Mesmo assim consegui alguns dos meus intentos, vi, imaginei e senti coisas diferentes que me souberam bem.  Breves momentos capazes de fazer qualquer alma feliz. No regresso da longa viagem ainda tive tempo de ir ver uma exposição onde belas obras de arte me acenaram silenciosamente com a sua beleza e discrição. Passei por vár...

"Monsenhor"...

Envelhecer também tem aspectos positivos. Permite colecionar recordações, emoções e paixões que guardamos nas gavetas da memória e que estão sempre preparadas para sair e contar as suas histórias. Gosto de arte. Sem arte não consigo sobreviver. Deixo-me seduzir com muita facilidade. Fico às vezes assustado com as minhas reações, mas não posso fazer nada, enrosco-me no encanto e no prazer de um belo quadro, estatueta, poema, visão e até paixão. Sempre é uma forma de viver e de esquecer muitas coisas que me rodeiam. Procuro uma realidade para fugir a outra. Se faço bem? Não sei. Pelo menos consigo embebedar-me com o prazer que emana da criação artística. Fui à casa de uma amiga que tem o hábito de me mimar com atenções e coisas belas. Fui ver a sua mãe, velhinha e acamada. Conheço-a do tempo em que tinha de andar de calções, fosse verão ou inverno, desde pequenino. Depois, deixei de a ver. Meio século? Sim, ou talvez mais.  São situações estranhas. O que se vive em criança o...

Fim

Amanhã, por esta hora, ou talvez mais cedo, termino a minha vadiagem pelo facebook, não sei se definitivamente, mas pelo menos durante muito tempo.  Ando cansado, cansado da vida e das múltiplas e constantes assimetrias, injustiças e incompreensões. É duro ter de nadar em ondas selvagens, ameaçadoras e injustas. Os princípios não são minimamente retribuídos, a gentileza também não, enquanto a honestidade e a justiça comportam-se como malditos salteadores a lembrar os bandidos da Beira. Não há pachorra para tanta coisa.  Não vou deixar de escrever, até pode acontecer o contrário e dar asas à imaginação, à criatividade e ao ensaio que tanto gosto. Para isso vou regressar a um velho blog meu, Praxinoa, (http://massanocardoso.blogspot.pt/).  Adoro a Praxinoa desde a primeira vez que a li em belas tardes de maio junto ao Mondego há cerca de 12 anos. Fiquei com o sabor das suas palavras no meu coração e, desde então, tornou-se um dos mais belos símbolos por quem o meu pe...

O quadro

O tempo livre ao fim da manhã empurrou-me à descoberta de algo que deveria estar à minha espera. Não cumpri o habitual e emergi numa velha rua onde em tempos vi alguns quadros. Não é que seja uma referência do que quer que seja. O que eu senti foi um impulso difícil de descrever. Parei em frente da montra e reparei no vazio do local e no olhar distante de uma rapariga que há muito não deveria fazer negócio por aí além. Molduras, estampas, quadros sem arte e sem pretensão a esse estatuto. No chão, sem moldura, um quadro impressionista, cheio de cor e de alma, gritou à minha sensibilidade. Destoava naquele ambiente, e muito. Passei em frente, mas passados alguns instantes voltei para o ver. Belo, sem dúvida. Perturbou-me. Entrei e perguntei se estava à venda. Perguntei, porque uma obra de arte daquele nível destoava no meio de uma bagunçada sem jeito e sem interesse. – Está. – Qual o preço? Um valor não muito exagerado, mas mesmo assim havia algo que não estava a entender bem. Numa casa...

Debate

Gosto de ouvir alguns debates, porque deixam transparecer parte da natureza humana, a mais nobre, a mais visível, a mais social, a mais religiosa, a mais poética, a mais rica, a mais teatral e a mais esperançosa. Gosto de ouvir. Gosto também de sentir o que não se diz, o que não se vê, o que não é nobre, o que está escondido, o que está afeto a faltas de valores e de respeito, o que é traiçoeiro, pensamentos e comportamentos que fazem parte do ser humano. Gosto, não no sentido de ser um apreciador, mas na vertente de poder estar atento, tentando ver o que se esconde atrás da cor da pele, do brilho dos olhos e da aparente nobreza. Dizer e pensar, uma luta titânica, ganha quem convence no momento. Resta o desespero do tormento do dia-a-dia.

Contrastes

Vi gente a passear e a ondular na baixa. Respirei o calor do passado. Parei em frente de velhas montras, umas transformadas, outras desfiguradas, enquanto uma ou outra mostrava ainda as mesmas dentaduras, agora envelhecidas e cariadas, onde outrora imperava o brilho e a atração. Contrastes. Apenas o sol, o calor e a brisa que corria na rua eram os mesmos. As recordações esfumam-se no meio dos contrastes. Ainda bem. 

Tesouros da vida

Viajo em pensamento à procura de encontrar os tesouros da vida. Nada de especial, não precisa de ser ouro ou qualquer pedra perfeita criada por acaso no meio da confusão do universo. Nada disso. Contento-me com o dourado do fim de uma tarde vulgar e silenciosa ou com as pedras talhadas pelo espírito criativo do homem. Dois tesouros a somar a tantos outros, como a poesia de um quadro ou a melodia de um poema escrito no delírio de uma noite fria. Tesouros da vida são pequenos encontros com a vulgaridade e o anonimato de almas que conseguem escapar-se entre os dedos de deuses menores, invejosos por não poderem conhecer o sabor do amor e a embriaguez do prazer. Quando desaparecem libertam no ar as suas memórias e recordações que só as almas gémeas sabem ler e saborear. Tesouros que os deuses nunca conhecerão, porque não sabem o que são almas.

Deuses de fantasia

Gosto de procurar aquilo que não sei. Gosto de passar o tempo sem o sentir. Gosto do inesperado e do belo como se fossem dádivas de deuses desconhecidos. Gosto de inventar deuses. Não por uma questão de fé ou para lhes pedir favores a troco de meias atordoadas ou promessas sem sentido que se esvaem a qualquer momento. Não gosto disso. Prefiro inventar os deuses para poder ir onde não consigo e conseguir pensar para além deste mundo perdido. Imagino-os iguais a mim, tal como convém a quem quer viver sem saber qual vai ser o seu fim. Gosto dos deuses humanizados. É mais fácil compreendê-los. Não assustam. Talvez seja por isso que sou atraído pelas velhas mitologias e cosmologias, em que a poesia e a fantasia enchem a minha alma vazia. Assim, consigo fugir do mundo real e posso vadiar à vontade entre emoções e sentimentos nunca sentidos, não como prémio de qualquer conduta ou de fidelidade religiosa, mas como sinal de respeito e vontade de viver a realidade do que deveria ser a vida, a m...

O quadro que ainda não vi...

Gosto de arte, adoro pintura e não desdenho a boa literatura. O que é que procuro na arte? Não sei! Não deve ser só o sentido estético, mas se for deve provocar algo dentro do meu encéfalo, talvez produza substâncias que estão ligadas aos alimentos do espírito. A arte deve incluir-se nesse grupo, uma verdadeira feijoada que alimenta a mais gulosa das almas! Alimenta e dá prazer. É por isso que gosto de a ver, de a tocar e de escrever sobre ela. Desperta emoções e sensações especiais, lembranças que exalam alegria, momentos de prazer únicos ou repetitivos que me tranquilizam, que me inspiram, que me fazem sentir bem e diferente. Talvez seja isso tudo ou, então, é algo que não consigo entender e nem explicar. Gosto de a possuir.  Recebi a notícia de que vou ser dono de mais uma obra. Aprecio o autor, um notável pintor. Não vi ainda a obra, só sei que é sobre o forte de Santa Catarina. Vinda de onde vem aceito-a com muito prazer. O que é que uma obra que ainda não vi me faz recorda...

Meio-dia e meia

Acabou de dar a meia hora da tarde de sábado. Preparo-me para me levantar e ir almoçar. Escrevo algumas linhas dentro de um curto período de tempo, o tempo necessário para exprimir o que sinto. Viver em certas localidades, pequenas, tem muitas vantagens, permite conhecer demasiado bem o percurso das pessoas, os seus interesses, as suas misérias, as suas personalidades, do que são e não são capazes de fazer. São livros abertos apesar de quererem guardá-los a sete chaves em gavetas vazias e transparentes. Quem quiser lê-los pode fazer mesmo sem os abrir. É fácil. Demasiado fácil. Metem medo. Escondem-se, julgam que estão libertos da intromissão de outrem, mas não. É demasiado fácil ouvir e cheirar os seus pensamentos. Alguns são humanos, onde a dor, a preocupação e o sofrimento vagueiam. É natural, dá-lhes o mínimo de estatuto da condição humana. O pior são as outras atitudes e comportamentos filhos de arquétipos ancestrais, em que a raiva, o ódio, o preconceito, o desejo de derrotar e ...

Cansaço de viver

Há momentos em que sinto o despertar de um velho impulso que há muito me persegue, embora se esconda durante longos períodos de tempo nas profundezas de um cérebro cansado e desejoso de paz. Atormenta-me esse impulso que me convida a não despertar, a não sentir, a não ver, a não amar, a não ser nada, apenas esquecer e ser esquecido. Desperta de tempos a tempos e causa-me estranhas sensações e emoções. É uma sensação acutilante, fria, dolorosa e silenciosa que quer beber o sumo da minha alma. Não a entendo. Não a desejo. Só sei que me invade de uma forma que não consigo compreender. Abandono-me nas mãos do tempo e na ternura da solidão. Dói, mas não sinto a dor. Atormenta, mas não vejo como escapar-lhe. Só sei que me convida ao vazio. Não sei o que dizer. O meu desejo é não sentir nada, mas mesmo nada, nem dor, nem paz, nem sombra, nem calor, nada, apenas queria esvaziar os meus sentidos e apagar de vez a escuridão deste estranho mundo. Não quero falar, não quero escrever, não quero ...

Lição

Não sei se certas lições têm o efeito esperado, evitar que certos comportamentos menos honestos se perpetuem, contribuindo deste modo para um melhor equilíbrio e ordem social. Não sei se têm, quero confiar que sim, mas no fundo não sei se deva acreditar, talvez seja mais uma forma de projetar a minha identidade e caráter nos outros, esperançado em poder mudar o mundo. Faço-o sempre que posso mas não acredito. E se fosse verdade? Como saberei?  Tenho tido episódios atrás de episódios de má conduta estudantil. Alguns estudantes comportam-se de forma pouco digna testemunhando a sua forma de ser que no futuro irá continuar com todos os efeitos negativos na saúde e no bem-estar das pessoas. Incomoda-me imenso este tipo de conduta. Faz-me sofrer. O episódio que vou relatar prende-se com falsificação de assinaturas. Foram detetadas, hoje é muito fácil detetar o que quer que seja, mas mesmo assim teimam nestas condutas. Acontece que a assiduidade contribuía com uma percentagem signifi...

Coletânea III

História de um dia poderia ser o título de uma história desconhecida que quis escrever ao fim de uma manhã. Senti necessidade de ver as palavras a nascer e dar corpo, forma e perfume a algo que desconhecia. Fiquei pelo título. Descobri-o agora, à noite, no meu recanto, onde sinto calor e alguma paz. O título que nasceu da necessidade de um vazio exige-me agora que preencha algumas linhas, linhas da minha vida, do meu pensamento e do meu sofrimento. Não lhe devia fazer essa vontade. Escrevo a pensar no ardor que senti quando vi algo que não esperava. Um tremor de angústia abalou-me por momentos. Aguentei o embate, o medo, a suspeita, a inquietação e um mar turbulento de emoções explodiu na minha mente. É difícil aguentar certos embates mesmo que não correspondam à verdade. A simples suspeita inquieta o mais bravo dos bravos. Sofre-se antecipadamente como a querer mitigar um eventual sofrimento do futuro. Ser humano é a capacidade de prever a dor e o sofrimento, como se fossem as únicas...

Coletânea II

Há muito que não vinha aqui. Hoje lembrei-me. É bom andar por um local sossegado, discreto e longe de olhares indiscretos. Talvez aqui me sinta bem. Não sei. Barbeiro Um dia meio estranho. O sol desapareceu e deu lugar a nuvens de maio carregadas de tristeza que depois do almoço se puseram a chorar aos gritos. Um dia estranho para ir à baixa onde me enfiei no barbeiro. Esperei um pouco mais do que é costume, mas deu para ver a arte de usar a navalha nos pelos compridos, encaracolados e despenteados que emergiam de uma face magra, esquálida e castanha escura revelando que a maioria dos dentes já foram à vida, uma vida "dura" sob o sol da vida. Os gestos bem estudados do artista da tesoura e da navalha eram bem visíveis. A forma de colocar a mão, a cabeça descaída-, a língua a querer a sair, revelavam cuidados e gosto no que fazia. O operado, deitado com os olhos fechados, gozava com o calor da espuma do sabão e o frio cortante da lâmina a percorrer a sua cara. Tratava-...