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Fim

Amanhã, por esta hora, ou talvez mais cedo, termino a minha vadiagem pelo facebook, não sei se definitivamente, mas pelo menos durante muito tempo. 
Ando cansado, cansado da vida e das múltiplas e constantes assimetrias, injustiças e incompreensões. É duro ter de nadar em ondas selvagens, ameaçadoras e injustas. Os princípios não são minimamente retribuídos, a gentileza também não, enquanto a honestidade e a justiça comportam-se como malditos salteadores a lembrar os bandidos da Beira. Não há pachorra para tanta coisa. 
Não vou deixar de escrever, até pode acontecer o contrário e dar asas à imaginação, à criatividade e ao ensaio que tanto gosto. Para isso vou regressar a um velho blog meu, Praxinoa, (http://massanocardoso.blogspot.pt/). 
Adoro a Praxinoa desde a primeira vez que a li em belas tardes de maio junto ao Mondego há cerca de 12 anos. Fiquei com o sabor das suas palavras no meu coração e, desde então, tornou-se um dos mais belos símbolos por quem o meu pensamento sonha, luta e enobrece. Vou para um lugar que é meu e aí vou permanecer, só, como devem compreender. 
Quando criei este blog, adormecido e meio desprezado, justifiquei-o.
Aqui vai a transcrição.

"Praxinoa 
Já perdi o conto às tentativas de criar um blog só para mim, não por uma questão de diletantismo, mas como forma de me refugiar em mim próprio partilhando as minhas reflexões e angústias com quem tiver a pachorra de me ler, evitando ser alvo de ataques, por vezes desproporcionados, injustos e muitas vezes tradutores de comportamentos difíceis de entender; evito classificá-los. 
Procurei um título, mas acabo sempre por cair no mesmo, Praxinoa. Porquê "Praxinoa"? Por uma razão muito simples, que vou tentar explicar em breves linhas. De vez em quando há um ou outro livro que nos marca mais. Foi o que me aconteceu há muitos anos, quase dez, quando li "Amores de Safo" de Erica Young. Uma obra romanceada sobre a cantora do amor. No livro de Young há uma passagem que me cativou, Safo, a cantora-poeta, ao arribar a uma ilha, acompanhada da sua escrava Praxinoa, na sequência de um naufrágio, deparam-se com três mulheres a dançar na praia. Debatiam sobre a razão do viver. Helena de Troia, Demetér e Atena.
"Helena perguntou à recém-chegada: - Devemos viver por amor, pela maternidade ou pelo intelecto?
- Pela maternidade – suspirou Deméter. – sem ela, não haveria pessoas à face da Terra.
- O cérebro acima do coração – disse Atena - senão seríamos todos animais do campo.
- O amor – disse Helena – pois só o amor inspira todas as coisas para que cresçam – mesmo as crianças e a glória da guerra.
A escrava Praxinoa riu-se de todas e disse: - Olhai para todas vós. Discutis como mulheres livres – sem sequer sonharem que a liberdade está na base das vossas opções. E se fôsseis escravas?"
Deste diálogo é possível demonstrar que a liberdade está na base de tudo o que queremos. A opção da escolha é o luxo de quem é livre. Mas seremos livres? Não, apenas meros candidatos e Praxinoa, a escrava, sabia, e bem, que ninguém é livre. 
As três deusas, a trindade feminina, deverão ter ficado perturbadas pela inesperada interpelação.
No fundo, sinto-me como a Praxinoa. "E se fossemos escravos"? Mas não somos?"

Até um dia se o dia chegar...

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