Tive sempre um fascínio pela morte. Algumas recordações possibilitam-me afirmar que sou capaz de a definir como a vi pela primeira vez. Uma ladra. Ao acordar ouvi uma conversa. A minha mãe falava com a vizinha na cozinha. Falavam da morte da menina. Era a minha companhia. Adoeceu com a mesma doença que eu tive. Ela morreu. Fiquei a pensar: - Se morreu nunca mais vamos brincar. Eu gostava muito de estar com ela. Tinha a minha idade. Já tinha visto gatos, cães, pássaros, e até uma cobra, mortos. Não se mexiam e ficavam feios. Comecei a pensar como seria o aspeto dela. Levantei-me e perguntei se podia ir vê-la. Ficou indecisa, mas depressa se recompôs e disse: - Podes. Como tiveste a mesma doença, agora já não corres risco de voltar a adoecer. - Vamos? Disse-lhe. - Espera um pouco. Ainda devem estar a prepará-la. - A prepará-la? O que é isso? Perguntei meio confuso. - Devem estar a lavá-la e depois têm que a vestir. - Mas os mortos também tomam banho? Para quê? Olhou-me e não d...
"- Olhai para todas vós. Discutis como mulheres livres – sem sequer sonharem que a liberdade está na base das vossas opções. E se fôsseis escravas?"