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Fogo...



Não tive intenção. Gosta da pintora que se especializou, se é que posso dizer, em desenhar pessoas e os seus sentimentos. Desconhecia esta faceta, a paisagem. Talvez tenha sido acidental ou algum momento em que a sensibilidade se deixou aprisionar pelos horizontes. Não sei, e como não sei tenho a liberdade de imaginar e de criar. 
A paisagem seduziu-me, talvez pelo amarelo e o vermelho que se escondem atrás de um verde frágil e temeroso. Um verde que não sabe fugir. Por cima o azul é triste e manchado de fumo. Perdeu o brilho. Atrás do escuro, do negro, antevejo a indiferença do divino. O habitual. Nem as chamas do sacrifício do fogo o consegue demover e alertar para a ansiedade da vida. 
Assusta. Há qualquer coisa de silencioso, mesmo que se ouça o crepitar raivoso da linguagem do fogo. Não sei por que razão me veio parar às mãos. Não tive intenção. No rescaldo de tão dramática tragédia vou considerá-lo como uma forma de oração, cujo tempo é o meu e cujo altar é de todos.

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