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Milagre...

É duro ter de ver e ouvir os acontecimentos que nos afligem. Ninguém está preparado. As tragédias são a forma da natureza e dos seres humanos se abraçarem no mais estranho amplexo, dor e morte. Tudo se acasala, mesmo que não consigamos ver ou prever. As causas escapam-se entre os dedos e os medos empertigam-se com violência no meio de todos. Tudo é passível de acontecer, e quando não acontece invoca-se o milagre. A palavra mais estranha e dolorosa que eu conheço. Estranha porque não a entendo, dolorosa porque discrimina sem explicar a razão. Há os que acreditam em milagres. Eu não. Não só não acredito, como abomino qualquer forma de "intervenção" divina que se baseia em critérios que não podem ser escrutinados, dando a entender que existe uma forma de corrupção religiosa. Estranho, associar milagre a corrupção. Sim, é muito estranho, tão estranho como associar morte e dor com as desculpas esfarrapadas que escondem negligência e incompetência. 
Um país eternamente adiado à espera que o tempo faça o que lhe compete, apagar as emoções e os sentimentos de impunidade. 
Uma reflexão de momento. Escondo-a neste local, não com medo de que a leiam, mas por respeito a quem não entende. Sim, há quem não entende ou não quer entender.

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Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

Nossa Senhora da Tosse

Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp...

Guerra da Flandres...

Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão. Exmas autoridades. Caros concidadãos e concidadãs. Hoje, Dia de Portugal, vou usar da palavra na dupla qualidade de cidadão e de Presidente da Assembleia Municipal. Palavra. A palavra está associada ao nascer do homem, a palavra vive com o homem, mas a palavra não morre com o homem. A palavra, na sua expressão oral, escrita ou no silêncio do pensamento, representa aquilo que interpreto como sendo a verdadeira essência da alma. A alma existe graças à palavra. A palavra é o seu corpo, é a forma que encontro para lhe dar vida. Hoje, vou utilizá-la para ressuscitar no nosso ideário corpos violentados pela guerra, buscando-os a um passado um pouco longínquo, trazendo-os à nossa presença para que possam conviver connosco, partilhando ideias, valores, dores, sofrimentos e, também, alegrias nunca vividas. Quando somos pequenos vamos lentamente percebendo o sentido das palavras, umas vezes é fácil, mas outr...