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Ser...

Aprecio imenso estudar o comportamento das pessoas. A todos os níveis. Analiso as reações a diferentes estímulos, sejam comentários ou provocações. Também me enriqueço com as diferentes opiniões, desde as mais desbragadas e insultuosas até às mais elaboradas e inovadoras. O mundo gira em torno da palavra. Palavra que cura, que tranquiliza, que faz sonhar, que atormenta, que cria, que mata, que denuncia, que transforma, que ama, que odeia ou que despreza. A palavra serve para tudo isto e para muito mais. Mas serve sobretudo, pelo menos para mim, para conhecer o recôndito mais profundo de um ser. Tão profundo que se identifica com a essência do próprio ser.
A discordância é salutar. O pior é que por vezes é acompanhada de evidente raiva. Muitos não a conseguem evitar. Falo de raiva e não do calor de cariz emocional. A emoção transpira sinceridade. A raiva também. Só que a raiva veicula valores e princípios que podem ser muito perigosos. Não numa eventual discussão, mas no comando de uma sociedade. Para comandar uma sociedade são necessárias pessoas que comunguem dos mesmos princípios ou valores. Identificando-se com eles, facilmente socorrerão os comandantes acabando por ficar tranquilos, sem ânsias, sem medos, sem ter que beber a frustração ou o fel de vitórias dos que reagem da mesma maneira no lado oposto. Há algo de profundo, de estrutural, fisiológico talvez, que leva muitas pessoas a manifestar-se com raiva e, por vezes, mesmo com uma sobranceria suja contra os que não comungam da sua "essência" de ser, que não sei onde se localiza ou como funciona. Também não interessa. O que é curioso é que essas pessoas podem ser almas de bem, preocupadas com o próximo e sempre dispostas em ajudar para que o mundo se transforme num melhor local. Contradição? Não. Dualidade? Também não. Então como explicar esses comportamentos? Habitualmente não dão grande importância aos que não comungam da sua "essência de ser". Sabem ignorar e ainda bem. Não reagem porque o que ouvem ou leem não consegue perturbar o funcionamento das suas mais "profundas" estruturas. Têm mecanismos que impedem que cheguem lá. O pior é quando abrem uma brecha. Essa brecha pode abrir-se de várias maneiras, a mais comum é quando respeitam e admiram o "opositor", quer pela obra, quer pela personalidade, quer pela criatividade ou até pela beleza da poesia. Quando a opinião ou o comentário emerge dessas personalidades, os mecanismos de proteção são ultrapassados alcançando o tal "núcleo" onde pulsa o ser. Aqui surge o problema. A dúvida instala-se, e quando ela se instala faz tremer a "essência do ser", provocando sofrimento e mal-estar. A melhor forma de defesa é expurgar essas dúvidas. Nestas circunstâncias surge a reação, eivada de mau humor ou de qualquer outra coisa que, na falta de palavra mais adequada, resumo em "raiva". Mas nem por isso deixam de ser boas pessoas e pessoas de bem...

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Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

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Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp...

"Salvem todos"...

Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.