Avançar para o conteúdo principal

São João

Consigo recordar com facilidade algumas histórias e historietas desta noite. Não sei qual a que devo escolher se a do meu tio Manel, a quem ajudei a construir um balão durante a tarde em casa da minha avó, e que à noite, na ponte da praça, ardeu a pouco mais de três metros do solo – chorei ranho e baba -, se os saltos que um dia dei sobre uma fogueira em que tropecei e me chamusquei. Nada de especial. 
A noite para as minhas bandas está “solenemente” silenciosa. Consigo ouvir ao longe um latido ou outro, talvez algum cão saudoso do São João.
Fui a uma vitrine e tirei o único São João que anda por aqui. Gosto deste São João. Tosco, foi feito por um pintor de construção civil que conheci e cheguei a tratar há muitos anos. Gostava de fazer santos. Este foi-me oferecido pelos familiares. Tenho muito apreço e admiração pelos santeiros. Este São João tem algo de especial. Deve ter sido feito com muito amor e devoção. Foi o “Borrabotas” que o executou. Os apodos na minha terra não são considerados como um insulto e nem sinónimo de humilhação, talvez alguma forma de “consagração”.
Conta-se a história de que um dia, no decurso de uma procissão, em que todos se ajoelhavam à passagem dos santos, o “Borrabotas” não se ajoelhou perante um. Foi o único. Ficaram a olhar surpreendidos para a situação. Depois da passagem perguntaram-lhe por que razão não se ajoelhou à passagem daquele santo. – Era o que mais faltava! Fui eu que o fiz. Ajoelhar-me ao gajo? Era o que mais me faltava. Claro que não foi este. De qualquer modo coloco aqui a sua imagem, significado, beleza e o sentimento de um criador apreciador do São João.
Este é o meu São João que me faz recordar o passado com alguma emoção.

Mensagens populares deste blogue

Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

Nossa Senhora da Tosse

Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp...

"Salvem todos"...

Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.