Dionísio numa noite de domingo...

Hoje, recebi um email do meu banco a informar de que posso adquirir uma caixa de vinho distinto, seis garrafas. Dão-me esse privilégio. Não costumo ler estes emails. Li-o e fiquei confuso. O preço é excessivo, penso eu, 237,00 euros, embora esteja incluído tudo.
Eu gosto de bons vinhos, confesso. Presumo que este deve ser mesmo especial. Mas, a par da oferta, o banco, preventivamente, foca um outro aspeto, a possibilidade de obter um crédito para a sua compra, e especifica as condições: "TAEG de 20,0%, TAN de 16,000%, prestação mensal de € 45,93 para um exemplo de um financiamento de € 500 a 12 meses. Montante total imputado ao consumidor de € 555,70, incluindo juros e Imposto do Selo pela utilização do crédito e sobre os juros". Credo! Crédito para comprar meia dúzia de garrafas de vinho? Este pequeno reparo fez-me lembrar a dificuldade que tive em encontrar um restaurante para jantar no último domingo. Dei uma volta pela zona. Ao chegar a Mangualde, convencido de que poderia jantar, bati com o nariz na porta de vários restaurantes. Nada. Tudo fechado, e não procurei poucos. Ao fim de algum tempo desisti, e pensei, vou para a casa, como uma lata de sardinhas ou de atum, um pedaço de pão, uma maçã, bebo um copo de vinho e resolvo o problema. Na viagem de regresso para Santa Comba ainda fiz algumas considerações sobre as razões deste fenómeno dominical, estival e de crise financeira em que vivemos até esbarrar num restaurante de estrada. Olhei e fiquei desconfiado se estaria ou não aberto. Vi um casal no extenso parque de estacionamento, vazio, e perguntei se estava aberto. O cavalheiro, muito surpreendido, respondeu-me, claro que está, acabámos de sair, olhe, o senhor não se vai arrepender, aqui come-se muito bem, isto numa estranha surdina como se fosse portador de um grande segredo. Agradeci-lhe, naturalmente, e fiquei aliviado. Entrei numa sala enorme, às escuras. Ao fundo, uma televisão debitava um jogo da liga espanhola. Atenderam-nos simpaticamente. Foi então que acenderam as luzes. Uma decoração kitsch, que não me incomodou, nem me tirou o apetite. Nada de especial, o jantar, mas também não importava. Vinho? Sim, da casa se faz favor. Uma pichorra de meio litro. Quando o saboreei nem quis acreditar. Uma coisa divinal! Até parecia que tinha sido o próprio Dionísio que tinha descido do Olimpo para compensar a minha tristeza. No final meti conversa com o dono, simpático e experiente. Explicou-me, com muitos detalhes, onde era produzido tão gostoso néctar, e como o obtinha. Fiquei com o seu sabor na boca e os seus efeitos na alma.
Garanto-vos que um dia destes vou até lá. Ai vou, vou. Preço? Quase água da chuva. Não corro risco de me endividar, posso, de facto, correr outros riscos, mas vou ter cuidado, e quem sabe se com alguma persuasão e charme não consiga um garrafão do dito. Quem não pode saber desta história sei eu quem é, o meu banco, claro. Chiça! Se eles sabem que existe uma coisa destas...

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