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Austeridade e doenças


Aumenta o número de relatos por suicídio em Portugal. A par desta realidade, que ocorre igualmente noutros países da União Europeia, também se observa um crescendo preocupante das depressões e outras patologias que merecem ser analisadas. Na Grécia existem dados segundo os quais as infeções por VIH estão a aumentar entre os toxicodependentes num valor explosivo em apenas dois anos. Há suspeitas de que neste país algumas pessoas se infectam deliberadamente para obterem vantagens em termos de cuidados de saúde. Mas os casos não ficam por aqui, o stresse prolongado, devido à austeridade, perda de emprego, ameaça de insegurança e diminuição dos proventos, desencadeia reações a nível dos genes bastante complexas entre as quais o surgimento de inflamações crónicas que podem aumentar o risco de ataques cardíacos, depressão e cancro. Alguns dos fenómenos ocorrem de imediato, enquanto outros só irão aparecer ao fim de dois, três ou muitos anos depois do período de recessão. Os mecanismos despertados pelo stresse social e económico começam a ser compreendidos. É muito provável que os efeitos venham a ocorrer mais tarde. Sabe-se desde há muito que os que nasceram em períodos de crise vivem menos e sofrem patologias graves. O caso das grávidas é particularmente preocupante, porque a gestação sob o efeito do stresse provoca modificações na expressão de muitos genes com consequências graves para o futuro da criança. Numa altura em que nascem poucos portugueses, muitos dos que irão nascer neste período tão crítico adoecerão no futuro por fatores desencadeados aquando da sua gestação. Mesmo que venhamos a ultrapassar esta fase, as consequências em termos de saúde irão continuar a manifestar-se daqui a muitos decénios, ou, quem sabe, tudo leva a crer que sim, mesmo nas próximas gerações. 
As políticas e o comportamento dos seres humanos têm de tomar em conta estes aspetos, não é só o bem-estar que conta, mas também a saúde de muitos de nós e sobretudo dos que irão nascer, os quais sofrerão de todas as maneiras, até na saúde, devido a "causas" que não são da sua responsabilidade.
O homem é um ser louco e irresponsável. Não aprende, apesar de querer compreender, mas há algo, talvez também genético, que o impele a cometer sempre os mesmos erros. Não tem solução.

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