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Morro de tédio...


Morro de tédio se não encontro um espaço onde possa afogar-me. São as pausas convencionais que me obrigam a isso. Longe do habitual tenho de criar novas rotinas, necessito como pão para o corpo encontrar tal espaço. Que espaço?Algo que me surpreenda e me convide a fugir do esperado, do vulgar, da monotonia estúpida e necessária à sobrevivência. Encontrei mais um, inesperadamente, estava à minha espera. Vagueei. Precisava de um lugar para ler ou para escrever. Vagueei e encontrei. Sentado num banco de pedra, e tendo à minha frente uma vasta e soberba secretária de granito, comecei a ler. Uma página apenas, li apenas uma. A narrativa daquela curta mas bela passagem fez-me despertar para a minha miragem. Toquei-lhe, absorvi-lhe os silêncios, deliciei-me com a sombra da palmeira solitária e fui impregnado pelo espírito de um interessante painel de azulejos, velho, filho do calor da fornalha, mas eterno na vida da mensagem. Espero, falta pouco para regressar à superfície da vida. Sinto o calor da tarde e os efeitos dos jogos de luz, dos sons e das sombras. Espero, sabe-me tão bem. São estes momentos que conseguem ensinar-me o conceito do tempo, algo que se não se mede com um relógio, mas sim com o gozo da sensação produzida, que nunca mais se esquece, prolongando-me até à minha eternidade, coisa que eu não sei o que é ou onde fica. Sabe tão bem viver, sem tempo...

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"Salvem todos"...

Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.

Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

Nossa Senhora da Tosse

Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp...