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Morro de tédio...


Morro de tédio se não encontro um espaço onde possa afogar-me. São as pausas convencionais que me obrigam a isso. Longe do habitual tenho de criar novas rotinas, necessito como pão para o corpo encontrar tal espaço. Que espaço?Algo que me surpreenda e me convide a fugir do esperado, do vulgar, da monotonia estúpida e necessária à sobrevivência. Encontrei mais um, inesperadamente, estava à minha espera. Vagueei. Precisava de um lugar para ler ou para escrever. Vagueei e encontrei. Sentado num banco de pedra, e tendo à minha frente uma vasta e soberba secretária de granito, comecei a ler. Uma página apenas, li apenas uma. A narrativa daquela curta mas bela passagem fez-me despertar para a minha miragem. Toquei-lhe, absorvi-lhe os silêncios, deliciei-me com a sombra da palmeira solitária e fui impregnado pelo espírito de um interessante painel de azulejos, velho, filho do calor da fornalha, mas eterno na vida da mensagem. Espero, falta pouco para regressar à superfície da vida. Sinto o calor da tarde e os efeitos dos jogos de luz, dos sons e das sombras. Espero, sabe-me tão bem. São estes momentos que conseguem ensinar-me o conceito do tempo, algo que se não se mede com um relógio, mas sim com o gozo da sensação produzida, que nunca mais se esquece, prolongando-me até à minha eternidade, coisa que eu não sei o que é ou onde fica. Sabe tão bem viver, sem tempo...

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