Abraço esquecido

Tantas nuvens.
Parecem diferentes das habituais.
Há quem as considere como recém-nascidas.
O mar em redor é a sua maternidade.
Silenciosa, a planície deixa transpirar um ou outro suspiro trazido pela suave e brilhante ondulação.
Se não se mexesse quase que diria que era um espelho onde as nuvens veriam a mãe antes de irem ao encontro do seu destino.
Andam aos trambolhões.
Começam a ficar mais espessas, enchem-se de recordações.
Um dia destes irão lançar as suas saudades contras as janelas onde correm as lágrimas tristes de muitos corações.
Nessa altura sentirão desejo de se abraçarem.
Ficar-se-ão pelo desejo.
As lágrimas do mundo não se misturam com as lágrimas de gente.
Aí vão elas, como se fossem aves de arribação.
Vão, mas quando voltarem virão de rastos palmilhando o chão da infelicidade.
Nessa altura, arrastarão também as lágrimas de gente.
Abraço desejado? Não.
Abraço esquecido.

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