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O pôr-do-sol

É interessante tentar compreender o que os outros pensam através dos seus escritos ou falas. Mesmo que tente é impossível conhecer a verdadeira dinâmica dos seus pensamentos. Umas vezes julgo que deverão ser tesouros, outras não, parecem ser caixas de falsidades, de disparates, de bondades e, até, de vontades escorregadias construídas ao sabor de regras e princípios que os devem ajudar a posicionar-se neste mundo desequilibrado e a confiar num qualquer deus que nunca falou, ensinou, gritou ou amou. Não sei qual é a vantagem em acreditar nas frias sombras do além. A única que vejo é justificar a compreensão da sua existência e fruir a ajuda dos que sentem o mesmo. Não me interessa se fazem bem ou não. Se se sentem bem, então que continuem. Mas daí a tentar convencer os outros com os mais fantasiosos e disparatados argumentos, então, tenho que dizer não. Assim, não. Não vale. A não ser que interprete as suas "atuações" como sendo formas de poesia. Assim, sim. Pode valer a pena. O pior é quando querem convencer os outros da realidade das suas fantasias estrambólicas e distorcidas pela crença e, porque não dizer, ignorância.
O mundo gira em redor destes fenómenos desde a noite dos tempos, ou talvez mesmo desde o pôr-do-sol do dia que antecedeu o aparecimento da humanidade. Deve ter sido o mais belo crepúsculo do universo, sem deus, sem nada, sem futuro e sem Adão e Eva. Valia a pena viver esse momento, mesmo que nunca tivesse tradução em pensamentos, escritos ou em falas sem sentido.
Valia a pena viver o pôr-do-sol que antecedeu a humanidade e morrer durante a madrugada do primeiro dia.

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