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Os deuses estão entre nós!

"Para mim foi um deus que apareceu. Mais do que um anjo". Disse o sem-abrigo que foi resgatado da rua por um jovem cheio de bondade. Fugiu de uma situação ignóbil, da escravatura. Já conseguiu trabalho. Recuperou a liberdade e a dignidade. Uma pequena história que mexe com qualquer um que passe pela vida à procura de compreender certos fenómenos e sempre desejoso de ver finais felizes. Uma fração infinita da bondade humana, que merecia ser multiplicada de forma exponencial para fazer ver a Deus aquilo que não anda a fazer. Não anda e nem nunca andou. A par deste episódio, um outro também me chamou a atenção, entre muitos que têm ocorrido com os refugiados que fogem das guerras para as bandas do médio oriente; uma criança de dezoito meses perdida no meio do Mediterrâneo a ser salva por pescadores turcos que conseguiram reanimá-la. Fazia parte de um grupo de mais crianças que também foram resgatadas. Parece que andavam há cerca de cinco horas perdidas debaixo das barbas de deus!
Sou obrigado, constantemente, a perguntar por que razão Deus deixa que aconteça estas coisas. Há quem seja capaz de afirmar que foi graças à sua intercessão que foram salvos. Há quem considere, quem sabe, que estamos perante verdadeiros milagres. Eu não acredito em milagres. Acredito nos "deuses" que se vestem de humanos, aqueles que andam por aí, anónimos e cheios de vontade em ajudar os seus irmãos, independentes de tudo, apenas por serem seres que amam os seus semelhantes, perdidos e esquecidos dos outros deuses que vivem no "conforto" dos seus reinos, sejam eles quais forem.
"Não foi um anjo, não senhor". Respondeu o sem-abrigo vítima de escravatura. "Foi um deus, um verdadeiro deus". Concordo inteiramente com ele. Os deuses a existirem estão entre nós, e são, felizmente, humanos. O meu maior respeito e admiração pelo que fazem. Ajudam-me muito.

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