Carnes vermelhas e transformadas!


Arrepio-me com a forma como são dadas certas notícias. A última teve a ver com a declaração oficial por parte da OMS de que as carnes processadas são cancerígenas. Como foi a OMS a dizer, logo, a rede de comunicação social, sempre ávida e pronta a reagir a tudo o que é sensacional, fez o que lhe competia. Competia?! Tenho algumas dúvidas. Faz o que lhe apetece, ou seja, "informar", melhor, desencadeia alarmes qual sismo de grau 7,5 da escala de Richter. Uma parvoíce que vende e que atrai as pessoas, os ouvintes ou os leitores. Fico mesmo com a sensação de que julgam ter feito o melhor para defender a "saúde" das populações! Considero esta última observação como a forma mais suave de criticar ou apreciar as suas atividades. Na verdade, tenho de confessar, graças à liberdade de expressão, e aos conhecimentos adquiridos ao longo de muitos decénios de estudo e de investigação, que muitos dos informadores não passam de uns pataratas pretensiosos, mesmo a raiar a cretinice. Quem se dedica a estas áreas sabe perfeitamente os riscos inerentes ao consumo de certos produtos alimentares. No tocante aos alimentos proteicos de origem animal, que sofrem as mais diversas transformações e aplicação de técnicas de conservação, são, efetivamente, dotados de propriedades carcinogénicas. Nada de novo. No entanto, é preciso aliar outros fatores, a quantidade e a frequência do seu consumo, assim como a suscetibilidade pessoal e a interação com outros fatores de risco e produtos da mais variada natureza. Em termos práticos, não vejo, e nem considero um risco por aí além, o consumo desses alimentos que muito contribuíram para a evolução da espécie humana. Imaginem se os nossos antepassados mais remotos, proto-humanos ou sapiens, tivessem ouvido esta notícia. Deixavam de comer carnes vermelhas, deixavam de comer carnes fumadas, deixavam de ingerir proteínas e os sacanas dos seus cérebros deixariam de evoluir, já que os seus intestinos, bastante parasitados, não se encurtariam. O que é que pretendo dizer? Uma coisa muito simples. O desenvolvimento do cérebro humano fez-se à custa do encurtamento do intestino graças à ingestão de carnes vermelhas, da medula óssea e dos primitivos fumeiros que ajudavam a conservar o pouco que conseguiam caçar. Viva o fogo! Agora vêm com esta novidade "científica". Como já afirmei, não dizem nada de novo. O problema é o susto que provocaram nas pessoas. Assim que ouvi a notícia disse logo, perdoem-me a expressão, mas, como bom português, sou obrigado a falar em termos de pureza vicentina: - Porra! Mais uma calinada que vai dar cabo de alguns setores industriais e comerciais deste pobre e miserável país. Depois, pus-me a dissertar, diletantemente, ao serão, sobre o que pode provocar cancro. Tantas coisas, meu deus. Tantas. Demasiadas. Seria fastidioso elencar o que comemos, bebemos, respiramos ou sofremos e que podem ter ação carcinogénica. É preciso alguma cautela e parcimónia na forma como são noticiados certos fenómenos, porque a maioria das pessoas, crédulas, são incapazes de discernir sobre coisas importantes, sem sombra de dúvida, mas que não podem e não devem ser divulgadas com a simplicidade "obscena" tão típica da comunicação social.
A moderação é a chave da resolução de muitos problemas. Nenhum alimento é mau ou diabólico. O que é mau e diabólico é a forma como lidamos com ele, ingerindo-o em excesso ou em circunstâncias que não são aconselháveis. Por esta razão, vou contestar a forma como foi dada a notícia, aproveitando o próximo fim de semana para, gastronomicamente, deliciar-me com uma "suave" combinação de carnes fumadas e transformadas. Já estou a salivar! E não preciso aparecer na televisão como anda a acontecer para as bandas dos fumeiros nacionais para contrariar o efeito de certos problemas de saúde ocorridos ultimamente e que foram divulgados na comunicação social.
O que é preciso é ter juízo, a comer e, sobretudo, a noticiar.
Anda tudo doido!

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