Aprecio a arte de escrever quando as emoções se transformam em belos quadros impressionistas e as paisagens em naturezas vivas, cheias de sol, de escuridão ou de vidas perdidas. O tempo escasseia e limita o prazer de ler os meus autores favoritos. Sonho em ler e angustia-me não poder escrever. Corri sem perceber até mergulhar na luz suave e brilhante de uma livraria. Percorri com o olhar os títulos a uma velocidade alucinante. Tocava num, acariciava outro, recordei muitos, enfim, fiz o que deveria fazer no espaço da vida e do mundo em que o silêncio grita de dor, de esperança, de raiva e de amor. Sentimentos e emoções, aprisionados em delicadas páginas, aguardam o toque gentil de quem os sabe apreciar. Querem libertar os seus odores e aprisionar nas suas maravilhosas teias o fervor de quem pretende saborear o amor e curar a dor.
Procurei no setor infantil o livrinho para a neta mais nova. Algo que fosse o equivalente à Bíblia. A mãe tinha-me contado pouco tempo antes que apanhou a menina a rezar junto da árvore do Natal. Pediu-lhe uma Bíblia para conhecer a história de Jesus. Não foi difícil encontrar uma deliciosa obra ilustrada que sintetizasse as mais belas e interessantes histórias do livro sagrado. Sei que vai ficar feliz e preencher uma lacuna que os seus quase sete anos exigem. A função de um livro é preencher vazios e despertar a curiosidade. Depois de o ler irá querer mais, e assim irá construindo a sua personalidade. Depois desta saborosa e elementar colheita, tive de satisfazer o meu eterno vazio. O livrinho sobre histórias da Bíblia abriu-me o apetite, como se tivesse falta. Voltei-me para os clássicos, para os meus favoritos. Uma forma rápida de matar a sede. Fui à estante e retirei uma obra que foi publicada recentemente. Uma compilação de contos. Agora, preciso de mandar parar o tempo para poder apreciar a arte de escrever através de um dos maiores cultores de emoções.
É o que estou a fazer. Paro o tempo para poder ler. Ao ler vivo e esqueço o sofrer. Ao ler entendo melhor o que é viver.
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