"A medicina é a minha vida, os meus pacientes são a minha vida e sinto a falta deles". Esta frase foi pronunciada por um médico francês no decurso do seu julgamento. Nicolas Bonnemaison, de 54 anos, foi acusado de eutanásia. Foi decidido, pela equipa médica, interromper a terapêutica a uma mulher de 86 anos, em coma irreversível, após um acidente vascular cerebral. Até aqui nada de especial, pelo menos nos dias atuais, em que é possível, felizmente, não continuar com terapêuticas encarniçadas e despropositadas. O direito a morrer com dignidade é uma realidade indiscutível em alguns países. O progresso faz-se, mesmo com alguma lentidão, como é o caso da medicina. Mexer com a vida é o menos, o pior é quando se mexe com a morte. Até parece que esta última se sobrepõe à primeira, pelo menos para certos setores da sociedade. Mas Nicolas foi mais longe, na perspetiva da lei do seu país, “injetou na paciente um sedativo utilizado em fases de agonia”. Para o tribunal esta atitude premeditada configurou um ato de eutanásia ativa. Acabou por ser condenado a dois anos de prisão, suspensa, e foi-lhe retirada a licença para exercer a atividade médica.
Nicolas está entre a vida e a morte, provavelmente mais para o lado da morte do que da vida. Tentou suicidar-se. O seu ato, de contestação, foi levado ao extremo. Julgo que não deverá ter sido pela humilhação praticada pela justiça, mas pelo facto de não poder ter continuado a exercer a sua atividade clínica. É provável que morra. Sendo assim, pergunto se os "autores" da decisão de o condenar, e de lhe retirarem a licença da prática médica, se sentem confortáveis. Vão-se esconder, naturalmente, atrás da lei, mas a mesma não irá confortar as suas consciências. A frase com que iniciei este texto ilustra o estado de espírito do médico, nada que se possa confundir com arrependimento, mas ofensa por não poder continuar a sua atividade. O que é que ele fez de mal? Injetou um sedativo numa doente em estado terminal e irreversível.
A luta contra o direito de morrer em dignidade, situação que aflige muita gente, sobretudo os que julgam com base em almas e em direitos divinos, como se a situação incomodasse qualquer ser invisível, irá continuar no futuro, até ao dia em que a consciência humana tomará conta do seu própria destino, que, por enquanto, oscila entre os libertadores da tirania de um ser superior, que nada ou pouco se interessa por nós, e os defensores intransigentes do mesmo, como se isso lhes bastasse para viver a outra "vida" sem medos e sem sofrimento, gozando as delícias de um paraíso escondido.
"A medicina é a minha vida, os meus pacientes são a minha vida e sinto a falta deles". Esta frase, dita durante o julgamento, encerra a humanidade de alguém que a mesma condenou e o levou à procura da tranquilidade da morte.
Nicolas está entre a vida e a morte, provavelmente mais para o lado da morte do que da vida. Tentou suicidar-se. O seu ato, de contestação, foi levado ao extremo. Julgo que não deverá ter sido pela humilhação praticada pela justiça, mas pelo facto de não poder ter continuado a exercer a sua atividade clínica. É provável que morra. Sendo assim, pergunto se os "autores" da decisão de o condenar, e de lhe retirarem a licença da prática médica, se sentem confortáveis. Vão-se esconder, naturalmente, atrás da lei, mas a mesma não irá confortar as suas consciências. A frase com que iniciei este texto ilustra o estado de espírito do médico, nada que se possa confundir com arrependimento, mas ofensa por não poder continuar a sua atividade. O que é que ele fez de mal? Injetou um sedativo numa doente em estado terminal e irreversível.
A luta contra o direito de morrer em dignidade, situação que aflige muita gente, sobretudo os que julgam com base em almas e em direitos divinos, como se a situação incomodasse qualquer ser invisível, irá continuar no futuro, até ao dia em que a consciência humana tomará conta do seu própria destino, que, por enquanto, oscila entre os libertadores da tirania de um ser superior, que nada ou pouco se interessa por nós, e os defensores intransigentes do mesmo, como se isso lhes bastasse para viver a outra "vida" sem medos e sem sofrimento, gozando as delícias de um paraíso escondido.
"A medicina é a minha vida, os meus pacientes são a minha vida e sinto a falta deles". Esta frase, dita durante o julgamento, encerra a humanidade de alguém que a mesma condenou e o levou à procura da tranquilidade da morte.
Comentários
Enviar um comentário