Ouço o cantar do velho relógio no corredor. Carunchoso e ronceiro não obedece como deve ser à medição do tempo. Sempre foi assim. Quando fica triste, amua e para. Quando está feliz, dança e sonha. É ele que fabrica o seu próprio tempo, um tempo à espera do fim. Ouviu-me. Badalou numa voz rouca doze badaladas, como que a despachar, mas, primeiro, gemeu um pouco. Agora vou dormir embalado no seu cantar. Lá fora, a noite, num silêncio sem luar, tem inveja do meu sonhar.
Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.
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