Não suporto gritaria. A gritaria parece ter sido eleita como desporto nacional. Quero tomar um café ou beber uma água fresca numa aprazível esplanada e acabo por ser agredido com vozearias cruzadas, disparadas entre as mesas. Conversas sem sentido, despropositadas, típicas das que praticam nas suas cozinhas ou às janelas com as vizinhas. Falam alto, muito alto, dizem barbaridades, sendo mesmos inconvenientes. São horríveis, porque de repente conseguem agudizar os sons a ponto de ferirem os tímpanos quando se põem a chamar ou a corrigir os filhos, os quais, por sua vez, revelam que são ótimos mestres na arte da gritaria.
Entra-se no espaço da restauração e é mesma coisa. Toda a gente fala ao mesmo tempo e para se poderem ouvir têm que gritar. Mas gritam mesmo. Claro que neste último caso, atendendo à hora, não se pode por de parte os efeitos das cervejas.
Toda a gente grita, nas manifestações profissionais promovidas pelos mesmos de sempre gritam alto e em bom som para impedirem que os responsáveis possam falar. Uma técnica recorrente e que contribui para a divulgação deste desporto. Trata-se da gritaria das manifestações que tanto ocorre aquando da visita de um governante ou, até, nas galerias do Parlamento. Gritar está na ordem do dia. Os gritos incomodam, e muito, pelo ruído, pelo conteúdo, pela falta dele e pela imbecilidade inerente.
Gritar nem sempre é negativo, também tem o seu lado bom, gritar para avisar de um perigo, gritar de satisfação num acontecimento desportivo, para não falar de gritarias mais íntimas, que não vêm para o caso.
Seria muito bom que as pessoas conseguissem controlar os seus gritos inoportunos, pelo menos em determinados espaços públicos.
Cada vez aprecio mais o silêncio, não o silêncio das ideias e dos pensamentos, porque estes são, infelizmente, num número apreciável de pessoas sinal de mudez intelectual, mas o silêncio que permite pensar, apreciar e amar.
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