O calor aperta e a falta de tempo também. Procuro alguns minutos de tranquilidade e fujo para os habituais recantos, nem que para isso tenha comido à pressa, contrariando as recomendações que me são feitas amiúde. Que se lixe, controlo melhor uma azia do que a falta de uma emoção. Na primeira basta um simples medicamento, enquanto a segunda exige muita meditação. Passo a correr pelo velho local, onde antes tomava o segundo café, lia e espairecia o meu espírito debaixo de belas e frondosas palmeiras, entretendo-me entre duas páginas com algumas figuras típicas da terra, entretanto desaparecidas. Anda tudo em obras. Não há esplanada, não há nada, apenas pó, calor e barulho. Refugio-me no meu local habitual, onde vou tomar um segundo café, não para o corpo, mas para o espírito, para que acorde cheio de vitalidade. Eis que no meu trajeto, no espaço em obras, projeto a notícia segundo a qual foram descobertos vários túmulos naquele sítio, de várias épocas, com várias pessoas. Espreito e não vejo grande coisa, apenas montes de areia e terra revolta, devem estar tapados e guardados dos olhares dos curiosos. É então que me recordo quantas vezes tomei café, li e descansei sobre eles. Beber um café, ler e descansar sobre campas poderia ser considerado como uma heresia. Mas não, eu não sabia que eles estavam lá e eles também não saberiam quem estava ali. Seja como for, não os incomodei e nem fui incomodado. Hoje, apeteceu-me espreitá-los. Devem estar por aqui, mas não os vejo. Eu estou, e a minha lembrança vai para esses desconhecidos, enterrados em espaços sagrados, que num futuro se transformaram em profanos. Eu nunca os profanei, eu apenas li e tomei café com eles...
Soube-me bem.
Que belíssima simbiose, Sr. Professor.
ResponderEliminarQuase podemos garantir que aqueles que estão por baixo, sentem a satisfação em partilhar o espaço de que o sabem apreciador e onde todos, cada um de sua maneira, encontra o sossego e o repouso de que necessitam.
Obrigado,,Bartolomeu.
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