Conversas loucas alimentam e curam. Sabe bem ouvi-las, construí-las e desfazê-las logo que apareçam. São diferentes segundo a hora do dia. De manhã são alegres, divertidas, cheias de esperança, cheirosas, impregnadas de perfume e de sobras de amor. À hora do almoço começam a inquietar e a comprometer o girar de um sol esquivo e envergonhado incapaz de se mostrar e que chora num sono depressivo e perturbador. Ao final da tarde, as conversas, esfomeadas, despertam a vontade canina de morder e de esfrangalhar as notícias sem sabor e sem valor. Loucos falam, ufanamente, das suas gloriosas loucuras, atos, palavras e conquistas sem sentido. É uma tristeza ter de ouvir tantas loucuras despropositadas, frias e provocadoras de ansiedade. Não gosto deste tipo de loucuras. São feias e duras. Fujo delas como o diabo da cruz. Eu não sou fã do diabo, eu gosto de uma cruz, a minha, onde queria pregar uma bela e doce loucura erigida aos céus de braços abertos, abertos a todos os loucos sãos deste mundo. Não os encontro, até encontrar à noite uma conversa de dois loucos, eu, mais velho, ela, a neta, a mais nova. Explica-me, tu que sabes de tudo e de todos, onde está a avó. Tenho saudades dela. Eu não esperava tamanha pergunta e tive de me socorrer de explicações loucas, tão loucas que acabei por acreditar nelas. Depois, perguntei-lhe, percebeste o que eu disse, sim, percebi. Pois, pensei, só através da loucura é que nos entendemos. Uma loucura que alimenta e cura, e que sabe tão bem...
Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite. Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.
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