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Uma tarde de domingo...


As tardes de domingos são os períodos mais depressivos da semana. Só quando a noite cai é que consigo sentir uma certa tranquilidade ao anunciar o dia seguinte, dia de trabalho, dia de vida, dia de esperança. As tardes de domingo servem apenas para roubar a alegria e escorraçar a vontade de viver. Um tormento em contraste com o seu significado, o dia do senhor. O de hoje fugiu à rotina. Acabei numa sala a falar, a ouvir poesia, a ser impregnado com música e a reavivar um passado num local onde vivi, aprendi e moldei grande parte do meu caráter. Até a árvore defronte daquele espaço foi lembrada, era tão pequenina, recordo o seu nascimento e as inúmeras tertúlias juvenis sempre à espera da sua sombra. Hoje não vestiu a sombra, o dia não a deixou vestir-se. A tarde de domingo enobreceu-se de calor humano, de novos episódios e de alguns encantos. Enquanto ouvia, a memória voava incessantemente entre diversos períodos, ávida de encontros, de sensações, de falas, de calores, de sons, de vida e de almas perdidas. 
Uma tarde de domingo diferente, fria e quente, triste e alegre, sombria e luminosa. Não deu para perceber que foi uma tarde de domingo... 

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Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.

Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

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