Estar debaixo de um árvore é como sentir um regresso ao ventre materno. Acolhedor, confortável, respira-se o seu próprio ar, simples, puro, por vezes perfumado com diferentes fragrâncias. Vaidosas mostram o mistério e a beleza das suas folhas, flores e frutos. Permanecem silenciosas, mas cheias de vida, prenhes de esperança, mesmo quando a doença e a morte anunciada as corroem sem dó nem piedade. Não se queixam, mas sabem absorver as nossas queixas. Obrigam-nos a lembrar episódios do passado, porque gostam de ouvir histórias. Sente-se o vibrar das suas folhas e ramos na ausência de qualquer brisa. É a sua forma de rir. As que estão na vizinhança, invejosas ou duras de ouvido, inclinam-se para as poder ouvir e sentir e agitam-se com alegria brilhante fazendo com que as suas folhas dancem sob o sol que, estranhando tamanha alegria, quer saber o que se está a passar sob as suas copas. Fica no querer. Não ouve e não vê. Quantas histórias já devem ter ouvido e sentido. Quantas! Se eu soubesse a sua fala, decerto que não mais deixaria de estar à sua sombra acolhedora. Ouvem-me e sentem-me. Agora sou eu que tenho de aprender a ouvi-las, mas já comecei a senti-las...
Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite. Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.
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