Fogem da morte. Escondem-se da morte. Negam a morte. A morte passou a ser coisa feia, má. Morre-se sozinho. Morre-se às escondidas, longe de tudo e de todos. A morte é a negação da imortalidade, o néctar que inebria os candidatos a deuses. Há quem não a veja e quem não a quer ver. Há quem nunca lhe tocou e não a quer sentir. Toquei-lhe muito cedo. Estava fresca num dia de verão. Não cantava e nem dançava. Não sorria, mas não estava triste. A pele fazia recordar a velha boneca de aspeto amarelado, cera suave que não se derretia. Vi qual era a sua cor, senti a sua frescura e admirei-me com o seu silêncio e tentei mergulhar num mundo que não era o meu, nem era o nosso. Lado a lado, cada um no seu mundo. Que coisa mais estranha. Não senti dor, não chorei, nem senti tristeza, apenas um vazio que ainda hoje perdura, sem saber porquê, talvez por ter acabado de aprender o que era viver, tocar e sentir a morte que estava ao meu lado.
Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.
Comentários
Enviar um comentário