"Um dia"...


Passo por velhos locais que envelhecem e rejuvenescem num equilíbrio sedutor. Olho e sinto o despertar de emoções, como se fossem quedas de água de saudades, eternamente frescas, cantando, rindo e brincando. Olho para os velhos recantos, sempre novos, e sinto o reviver de encantadores sentimentos. Sinto, subitamente, o acordar do vento, vestido de brisa, vaidoso e aparentemente indiferente à minha passagem. Parece que se lembra de mim. Sinto as suas carícias, doces e voluptuosas a tatear a minha face como se fosse um cego que vê tudo. Tem uma estranha forma de mostrar os seus sentimentos. Tem saudades. Premeia-me com odores discretos e inebriantes de alegria, de paz, de conforto e de esperança. Não sei como é que ele consegue fazer tão enigmática e agradável tisana. O sol pisca-me o olho, como quem diz, eu também ajudo e as árvores balanceiam-se dando a entender que também estão a contribuir. Sorriem, como só elas sabem, numa bela tarde em que o tempo para, para para descansar um pouco. Anda cansado, sente-se e vê-se. Merece descansar à sua maneira, fazendo com que viaje até ao passado. Quando isso acontece o presente desaparece, e quando não há presente o tempo deixa de se preocupar com o futuro. Esquecer o futuro é viver eternamente. Foi o tempo que me disse; eu acredito ou faço por acreditar, até que um incómodo pensamento me perpassou pela mente, um dia não vou sentir nada disto, um dia será o último que vou passar por tão belos e enigmáticos lugares. Todos se riram, abanaram as suas cabeças e disseram num sussurro, em coro, pois vai, e depois? Nós não te vamos esquecer. Não vês que o que te estamos a dar não são mais do que as nossas lembranças de outros que tais... E tu gostas! Não gostas? Gosto.

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