Há muitos anos, numa manhã de domingo, brilhante e cheirosa, recordo um céu azul acabado de pintar. A atmosfera era tão transparente como se tivesse nascido naquele preciso momento. O silêncio matinal permitia que belas flores, frescas, se emocionassem, libertando pequenas lágrimas de água pura. Quem as bebesse decerto encontraria a felicidade, mas, envergonhadas, escondiam-nas de imediato. Uma flor não gosta que lhe toquem quando se emociona. É o seu estado de alma mais misterioso, é o seu segredo e todas prometeram não o revelar aos humanos, apenas a almas livres. Cantam e encantam, nascem e morrem, vivem e deixam viver, enfeitam e deixam-se enfeitar, dóceis, obedientes, alegres e embelezam o mundo. Servem para tranquilizar a ansiedade da vida, curar a tristeza dos que sofrem e para alimentar a esperança dos desesperados. O mundo sem flores não tinha qualquer sentido, seria um mundo sem vida, sem esperança e sem beleza. Olha-se para uma flor, toca-se numa flor, cheira-se uma flor, oferta-se uma flor e o mundo adquire outra cor e conhece o amor. Desde sempre, desde que soube que existia, o homem procurou a flor para aliviar a sua dor e testemunhar o seu amor. A flor não se importa de morrer, até agradece, porque alivia a dor de quem fica e revela os segredos da felicidade a quem parte, dando-lhes a beber as suas lágrimas de emoção...
Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.
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