Avançar para o conteúdo principal

Rei de almas de lei...


Ando sem parar à procura do meu destino. Volto vezes sem conta a locais vividos e nunca esquecidos. Sobressai na minha mente muitos apontamentos, distantes, secos, quentes e mirabolantes. Apenas desejo rever e encontrar o que não foi visto antes. Fui e encontrei. Entrei no belo recinto cheio de almas estranhas, agarradas às pedras quentes e desesperadas por falar durante alguns instantes. Vivem e sonham perdidas. Não falam umas com as outras, apenas conseguem sussurrar aos ouvidos de alguns mortais que procuram desesperados algum sentido para explicar o mundo perdido. Entrei e vi. Entrei e ouvi. Entrei e imaginei. Saí e falei. Doces momentos. Palavras soltas e olhares invisíveis percorreram o meu corpo, ouvindo o que eu sentia. Pediram-me para que eu dissesse o que queriam. Disse-lhes que sim, que iria contar o que ouvi, ou melhor, o que senti. Senti que aprendi, naquele espaço silencioso, onde o murmurar da água é uma constante, o significado de muitos cantares da vida escondida mas sempre sonhada durante séculos e noites prenhes da mais estranha alegria. O que resta encanta e o que desapareceu espanta. Cada uma das almas sorria. Não havia medo. Sorriam sempre que podiam, com ternura, encanto, fervor e esperança no seu desejado advir. São almas livres e doces. Algumas quiseram mostrar que a tristeza também é capaz de jorrar alegria. Sempre que as ouvia via a água a correr. Tantos sons, todos diferentes, mergulhados em águas cristalinas, soavam em redor na mais perfeita harmonia. 
Andei e respirei. 
Andei e vi. 
Andei e desejei.
Andei e saboreei. 
Andei como se fosse um rei.
Pediram-me que voltasse novamente. Respondi-lhes que sim. 
Voltarei. 
Quem é que não quer ser rei por uns instantes de almas puras de lei?
(Visita ao convento de São João de Tarouca)

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

Nossa Senhora da Tosse

Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp...

Guerra da Flandres...

Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão. Exmas autoridades. Caros concidadãos e concidadãs. Hoje, Dia de Portugal, vou usar da palavra na dupla qualidade de cidadão e de Presidente da Assembleia Municipal. Palavra. A palavra está associada ao nascer do homem, a palavra vive com o homem, mas a palavra não morre com o homem. A palavra, na sua expressão oral, escrita ou no silêncio do pensamento, representa aquilo que interpreto como sendo a verdadeira essência da alma. A alma existe graças à palavra. A palavra é o seu corpo, é a forma que encontro para lhe dar vida. Hoje, vou utilizá-la para ressuscitar no nosso ideário corpos violentados pela guerra, buscando-os a um passado um pouco longínquo, trazendo-os à nossa presença para que possam conviver connosco, partilhando ideias, valores, dores, sofrimentos e, também, alegrias nunca vividas. Quando somos pequenos vamos lentamente percebendo o sentido das palavras, umas vezes é fácil, mas outr...