Ando sem parar à procura do meu destino. Volto vezes sem conta a locais vividos e nunca esquecidos. Sobressai na minha mente muitos apontamentos, distantes, secos, quentes e mirabolantes. Apenas desejo rever e encontrar o que não foi visto antes. Fui e encontrei. Entrei no belo recinto cheio de almas estranhas, agarradas às pedras quentes e desesperadas por falar durante alguns instantes. Vivem e sonham perdidas. Não falam umas com as outras, apenas conseguem sussurrar aos ouvidos de alguns mortais que procuram desesperados algum sentido para explicar o mundo perdido. Entrei e vi. Entrei e ouvi. Entrei e imaginei. Saí e falei. Doces momentos. Palavras soltas e olhares invisíveis percorreram o meu corpo, ouvindo o que eu sentia. Pediram-me para que eu dissesse o que queriam. Disse-lhes que sim, que iria contar o que ouvi, ou melhor, o que senti. Senti que aprendi, naquele espaço silencioso, onde o murmurar da água é uma constante, o significado de muitos cantares da vida escondida mas sempre sonhada durante séculos e noites prenhes da mais estranha alegria. O que resta encanta e o que desapareceu espanta. Cada uma das almas sorria. Não havia medo. Sorriam sempre que podiam, com ternura, encanto, fervor e esperança no seu desejado advir. São almas livres e doces. Algumas quiseram mostrar que a tristeza também é capaz de jorrar alegria. Sempre que as ouvia via a água a correr. Tantos sons, todos diferentes, mergulhados em águas cristalinas, soavam em redor na mais perfeita harmonia.
Andei e respirei.
Andei e vi.
Andei e desejei.
Andei e saboreei.
Andei como se fosse um rei.
Pediram-me que voltasse novamente. Respondi-lhes que sim.
Voltarei.
Quem é que não quer ser rei por uns instantes de almas puras de lei?
(Visita ao convento de São João de Tarouca)
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