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Varandas de ocasião.


Numa noite suave e delicada de verão sinto a tranquilidade das conversas do serão. O tempo para, o tempo recua, a alma sonha, a alma recorda tudo o que viveu desde então. Outras noites emergem nesta noite cantando e dizendo o que sentiam no coração. Recordo muitas delas e imagino aquelas que nunca dirão. Não estão aqui, mas é como se estivessem. Ouço o calor e a languidez das conversas, histórias e vivências cheias de tradição, sempre ao som do sino e do cantar das cigarras loucas e frenéticas com o cheiro do verão. Sentado à varanda recordo outras varandas. As varandas foram feitas para esta ocasião, lembrar o passado e sossegar o estranho momento do dia da ressurreição. Ressuscita a esperança, a saúde, a alegria e a inspiração de quem nunca soube o significado da criação. Cada um escreve a sua oração de acordo com o momento e o desejo de ser escravo da sua própria ilusão. Interromperam-me este momento de escrita. Chamaram-me da rua para a minha varanda. Por favor venha ver a senhora. Uma senhora idosa, parente ainda, que me conhece desde o tempo em que usava calção. Tive de ir vê-la. Estava, segundo me contaram, também à varanda recordando o passado. Há mais de um ano que não vinha aqui. A ansiedade e a emoção provocarem-lhe uma forte comoção. Afinal, estar à varanda tanto faz sentir alegria como tristeza no coração. Eu, de um lado, a ruminar traços de satisfação, ela, do seu, a sentir saudades de um passado a querer roubar-lhe o coração. 
Varandas de ocasião. 
Agora, deve estar a ouvir os toques do sino tal como eu. Espero que durma em paz e se inebrie na loucura doce do sono com alguma bela recordação. Não tenho outra terapêutica à mão, senão algumas palavras de sossego. Fez efeito? Sim. Espero que sim. Pelo menos registo o seu sorriso, sempre belo e agora mais tranquilo. 
Tudo isto numa suave e delicada noite de verão.

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