Tarde rotineira. Ver trabalhadores, na sua maioria saudáveis ou sem grandes problemas, não é estimulante, apenas justifica a necessidade de cumprir as regras e fomentar a prevenção que tanta falta faz entre nós. Aspeto elegante, solta nos gestos, com um à-vontade construído ao longo de uma vida ainda curta, respondia às perguntas com calma e alguma curiosidade. Vi, perfeitamente, que era uma mulher perspicaz, socialmente reconhecida e culturalmente distinta. Agradou-me a atitude; transbordava simpatia e tranquilidade. Subitamente, fui obrigado a engolir em seco. Tremi e assustei-me. Contou-me que tinha estado de baixa devido a cancro da mama. Os meus olhos saltaram do seu rosto à procura da data do nascimento. Fiz os cálculos sem esforço. Tinha 36 anos de idade e foi operada há pouco mais de um ano. – Também fiz quimioterapia. Disse com um sorriso muito discreto. É natural, pensei. A forma como ia descrevendo os acontecimentos, com calma e muita confiança, mexeu comigo. Confesso que...
"- Olhai para todas vós. Discutis como mulheres livres – sem sequer sonharem que a liberdade está na base das vossas opções. E se fôsseis escravas?"