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Gesto de atenção

Gosto de uma atenção, de um sorriso, de um olhar tranquilo, de um gesto de nobreza, de um som doce, de qualquer coisa pequena, suave, delicada e que encha o coração. Mesmo sem grandes falas, uma pequena atenção traduz o respeito e afeição de quem sabe exprimir o que lhe vai no coração.
Dói-me e exaspera-me a raiva, mesmo a minha quando é despertada pela violência arrogante de quem não vê o que é óbvio, e que constitui a regra mais básica da gentileza humana, o pequeno gesto de atenção.
Afinal, também sou sujeito a reações exasperantes que se estendem não só ao fenómeno de ocasião, mas a todos que gritam arrogantemente que só eles têm razão.
O que fazer então? Calar-me. Não me mexer. Não sair do lugar. Não ver. Não ouvir. Apenas desejar sentir o que seria da vida se a gentileza de um sorriso ou de um mero gestão de atenção voasse na minha direção. Não voa? Não. Fecho os olhos e deixo-me ir nas ondas virtuais da minha ilusão.

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