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Ventre de uma mãe que ainda não nasceu...

Os dias enchem-se de tragédias e de crises qual delas a pior. O mundo continua na sua agitação delirante, enlouquecido por comportamentos e ambições desvairadas. Continua tudo na mesma; refugiados de guerra, refugiados da fome e da miséria, desgraçados que olham para o céu e não veem anjos nem Deus, tragédias atrás de tragédias, vigaristas a engordarem como porcos, políticos sem honra a prometerem coisas que não passa pela cabeça do diabo e que vão de encontro às mesmas ambições de parte da população, que não difere muito dos que querem governar, ou seja, também querem governar-se à maneira. Sobreviver é isso mesmo, mesmo que consigam deitar uma lágrima de tristeza pelos que vagueiam fugindo dos mais tremendos destinos. Ouço as notícias, ouço os debates, ouço os comentários, ouço os profetas e vejo o que está por detrás, o mesmo de sempre, safar-se, custe o que custar, e teatralizar sentimentos pelos que sofrem ainda mais e não têm qualquer expectativa nos seus países de origem, onde o seu semelhante manda, explora, rouba, mata, humilha e despreza qualquer pessoa que se atravessa no caminho. Políticos, banqueiros, mafiosos de todos os tipos, desde a banca, passando pela droga e armas, até à religião, são os donos e conspurcadores deste mundo. O mundo não muda, nunca mudou e nem vai mudar, é impossível, porque a essência da vida humana é essa mesma, enganar e dominar os outros para poder tirar proveito e riqueza. Tão simples a explicação; impossível de solução.
Não me encanta viver desta forma, mas não tenho alternativa; vou andando, vou pensando, vou fingindo e, também, fugindo, sempre à espera de esquecer este mundo que não serve para grande coisa, a não ser para poder poetizar numa noite longa e silenciosa como se estivesse desejoso de dormir no eterno ventre de uma mãe que ainda não nasceu. O verdadeiro paraíso da vida esquecida.

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