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O cachimbo

Conversas de uma manhã de lazer.  Conversas voláteis como o fumo que sai do cachimbo do reformado. Não servem para grande coisa, a não ser para poluir o ambiente. Discute-se o estado do país e as perspetivas do futuro, como se houvesse futuro para a maior parte das pessoas. O futuro depende de vários fatores, trabalho, dedicação e honestidade. Trabalhar dói. Há quem não goste. Olho em redor e vejo muitas pessoas que pouco ou nada fizeram a não ser terem passado parte da vida à espera da tão desejada reforma. Coitados, conseguem iludir-se de que fizeram algo pela sociedade. Alcançaram o seu desiderato. Um deles espraia-se na esplanada, vomitando, indolentemente, fumo aromático e comentando o estado da nação propondo soluções. Não sei se sabe o que é trabalhar; há muito que está inativo, antes da menopausa caso fosse mulher. Até a isso foi poupado; poderia dar-lhe muito trabalho. Olho e ouço as tiradas habituais, tão ou mais poluidoras que o fumo aromático que inunda o espaço em redor. Um português típico, cansado e preocupado com o povo. O trabalho nunca lhe correu nas veias, comenta-o entre duas valentes plumas através de indolentes verborreias.


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Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

Nossa Senhora da Tosse

Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp...

"Salvem todos"...

Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.