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"Alva"...


Há muito que não mergulhava nas águas de um rio. As águas do rio perseguem-me desde pequeno. Suaves, cálidas, com cheiro próprio, amolecedoras do corpo e tranquilizadoras da alma, são um privilégio para quem as procura. Roubaram há muito o meu rio. Procuro-o a montante, longe, onde ainda consigo encontrar-lhe a alma. Gosto de me cruzar com ela. 
Cada rio tem o seu encanto e beleza, quase que diria que tem um cheiro próprio. Hoje procurei outro rio, onde em tempos também mergulhei. Tem um cheiro diferente. As deusas dos rios são diferentes, mas todas elas provocam no corpo e na alma a mesma sensação de prazer. A melhor hora de a desfrutar é ao fim da tarde pelas vésperas. Registo com agrado o entorpecimento que me invade. Registo com agrado as emoções engavetadas que procuram avidamente o ar e a liberdade. Registo com agrado a sensação de viver. Registo com agrado as carícias amigas do tempo. Registo com agrado o esquecimento. Registo com agrado o nascer de uma esperança. Registo com agrado a paz das belas ninfas das águas do rio. Registo com agrado ter mergulhado no Alva. 
Registo.

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