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"Terra batida"...



Recordar as pessoas é encontrar o caminho da vida, delas e da nossa. Somos frutos do passado, passado esquecido e raramente lembrado. Somos sementes de frutos do passado, desejosas em transmitir a vida ao futuro, um futuro que se esquece amiúde que tem passado. Ai do futuro quando se esquece do passado, é um futuro estéril, incapaz de dar vida à vida porque se esqueceu de quem lhe deu a vida. 
A casa, que mais parece um castro neolítico ou um curral dos nossos dias, foi, em tempos, uma habitação. Ali viveram e cresceram, atrás de uma porta, seres humanos, pelitrapos de corpo e de alma, uma porta chorosa por onde meia dúzia de raios solares conseguiam entrar, por breves momentos na parte da manhã, mas que rapidamente fugiam inquietos com o interior. Mais de um século depois ainda permanece no mesmo local a testemunhar um passado de dor, uma chaga viva de terra batida, a querer relembrar que nos mais estranhos sítios é possível nascer sementes, sementes que viajam ao sabor do desejo de melhor vida, de uma terra mais fértil e de um sol mais dourado. O céu também se pode encontrar na terra, basta ter nascido e vivido num qualquer inferno vizinho e depois ter coragem para voar, voar do passado para o futuro sem ter medo do presente. Ensinar as sementes a voar é o segredo da vida e ensinar os frutos de novas sementes a conhecer o seu passado o segredo do mundo... 

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