Imitar é um verbo que me faz lembrar os macacos. Não sei se eles se comportam como dizem, "macacos de imitação". Não sei, não. O que vejo é o fenómeno de imitação a disparar a torto e a direito. Lembram-se de criar um penteado novo, tipo crista de galo, ou a querer lembrar o cabelo "penteado" pelo sono, e "toda" a gente passa a usá-lo. Começam a ver tatuagens desenhadas nos corpos, para, sem qualquer motivo, a não ser a novidade, começarem a usá-las por tudo o que é sítio, visível e não visível. Há quem se lembre de pintar as unhas contra o tradicional e sensual vermelho, passando a usar cores mortas, feias, a lembrar cianosados em estado pré terminal ou a quererem copiar as unhas de bruxas diabólicas, e vai daí a epidemia começa a alastrar-se. Há quem se lembre, também, de aprisionar uma ribeira ou um rio com poucas forças no verão, criando esverdeados e nauseabundos espelhos de água, para dar a expectativa de terem muita água, e inclusive colocando repuxos no meio deles como se fossem tanques artificiais a mijar água como um puto de seis meses deitado nu no seu berço. Basta haver um autarca a fazer uma coisa destas para logo outro e mais outro copiar tão criativa iniciativa. Lixam tudo como uma rapidez que até assusta. Deste modo, o discreto, transparente e amoroso fio de água que girava no verão em torno de pequenos pedregulhos, enxameados de belos e prazenteiros peixes, desaparece e consigo a sua natural beleza. Não é só nos cursos de água que se verifica este fenómeno, ocorre, também, nas alterações às praças centrais que outrora eram arborizadas e que passaram a dar lugar a desertos de betão e de calçadas não-portuguesas. Atentados e mais atentados, típicos de quem gosta de imitar, descurando o bom gosto e a beleza tradicional. Moda? Qual moda, falta de gosto. Não há dúvida de que o verbo imitar é o verbo dos pretensiosos e da falta de espírito. No que toca ao cabelo, basta cortá-lo ou penteá-lo de outra maneira. No que toca às unhas, também é fácil. No que toca às tatuagens não há praticamente solução. Paciência, arrojam-nas com elas até ao fim da vida, é uma mera questão de escolha. No fundo trata-se de um problema pessoal e cada um escolhe o que mais lhe apraz. Mas no que toca ao ambiente as coisas são diferentes, porque constituem atentados para os quais não há justificação nem mais-valias, além de desrespeitarem a beleza da natureza, também violam os direitos dos cidadãos. A mim não me incomoda muito os "imitadores" exceto quando dizem respeito ao património comum. Neste caso quase que poderíamos dizer que estamos perante "autarcas de imitação"...
Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.
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