Ouço sons. Vêm de todo o lado, da ribeira, das pessoas que passam, de uma muda que fala e ri para o bebé, do sino da torre, que, ritmicamente, quer ainda marcar a vida de quem o ouve, da brisa da tarde, do silêncio da vida e do encanto do esquecimento. Embrulham-se uns nos outros criando novos sons, sons que nunca tinha lido, nem ouvido, sons com algum sentido, sons à procura de outros sons, sons com quem possam falar, tocar e amar. Os sons têm alma e gostam de andar nus, não precisam de se esconder, precisam só de liberdade, e a liberdade aproxima-se deles, curiosa, distraída, e deixa-se agrilhoar. O único momento em que a liberdade sabe o que é ser-se aprisionada. Não se queixa e nem se arrepende, porque só assim sabe e sente o sabor do desejo. Depois, quando o silêncio do sono se acende novamente, volta a correr, livre, sem saber o que fazer...
Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.
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